Rins, fígado e córneas são encaminhados para transplante na primeira cirurgia de captação de órgãos em Campo Grande
Pouco mais de um ano após inauguração, o Hospital Cassems de Campo Grande realiza a primeira cirurgia de captação de órgãos para transplante de sua história. A equipe médica responsável pelo procedimento chegou em Campo Grande na madrugada desta quinta-feira e veio de Brasília. A cirurgia, que coletou os rins, fígado e córneas da doadora, teve uma duração média de quatro horas.
Uma verdadeira força tarefa foi montada para que o procedimento de captação dos órgãos fosse realizado. Ao saber da possibilidade de uma possível doadora, as equipes do hospital se mobilizaram durante toda quarta-feira para viabilizar o processo de doação. Em um primeiro momento, médicos e assistentes sociais conversaram com a família que, prontamente, autorizou a realização do procedimento. Em seguida, começou uma corrida contra o tempo para solucionar, com rapidez, as questões burocráticas.
Com a ajuda da Organização de Procura de Órgãos de Mato Grosso do Sul (OPO) foi possível agilizar todo o processo, fazer a ponte entre o hospital e a Central de Transplante Estadual e definir quais órgãos seriam captados e para quais locais eles seriam direcionados. Duas equipes médicas foram acionadas: uma de Brasília e outra de Campo Grande. Rins, fígado e córneas salvarão as vidas de outras pessoas que aguardam na fila do transplante pela oportunidade de um recomeço.
Segundo a coordenadora da OPO, Ana Paula Silva das Neves, é muito importantes hospitais que possuem unidades de tratamento intensivo instituírem a cultura de notificar a OPO e a central de transplantes sempre que surgir uma possibilidade de doação de órgãos. “É importante que os hospitais também tenham uma comissão intra hospitalar para doação de órgãos. Quando recebemos a notificação de um possível doador, nos mobilizamos, conversamos com os familiares e viabilizamos todo o processo”, explica a coordenadora.
Luiz Gustavo Guedes Diaz é cirurgião geral e integrante da equipe de transplante de fígado que veio de Brasília para realizar a cirurgia de captação do órgão. Responsável por iniciar o procedimento, Luiz reforça que é necessário trabalhar muito ainda para instituir uma cultura de doação de órgãos no Brasil.
“A espera na fila de transplante é sempre uma angústia e mortalidade ainda é muito alta. Em média 20% dos pacientes morrem antes de terem a oportunidade de receber uma doação. Quando temos mais hospitais engajados nessa luta, significa que também teremos mais oportunidades de vida para nossos pacientes”, analisa.
A diretora técnica do Hospital Cassems de Campo Grande, Priscilla Alexandrino, compartilha do mesmo pensamento do cirurgião geral. Para ela, o Mato Grosso do Sul tem um território muito extenso e muitas coisas se concentram em Campo Grande. “Precisamos nos organizar para termos mais capilaridade e alcançar o maior número de hospitais possível que tenham condições de realizar a captação de órgãos para transplante”.
O presidente da Cassems, Ricardo Ayache, reforça que a rede hospitalar da Cassems está preparada para realizar esses procedimentos em pelo menos três hospitais que possuem centro de tratamento intensivo. “Isso é um reflexo dos investimentos em tecnologia e recursos humanos que têm sido feitos pela Cassems e da percepção das nossas equipes no sentido de ampliar as opções dos cuidados em saúde”.
A certeza que a vida continua
A técnica de enfermagem, Marilene da Silva, perdeu a vida aos 39 anos. Deixou marido e uma filha de 17 anos. Mas nem sempre a morte é o final da jornada. Para quem ficou, o momento de dor e tristeza pode parecer infinito, mas realizar o último desejo de quem partiu significa um alento e uma forma de manter viva a memória daqueles que amamos.
Ao saber da morte prematura da mãe, Carolina da Silva Arce não pensou duas vezes. Falou para o pai, o professor Henrique Arce, que a mãe queria que seus órgãos fossem doados. A decisão foi rápida. Henrique também não pensou muito. Atendeu os desejos da filha e da esposa recém-falecida. Um ato de bondade e desprendimento em meio a dor da perda.
“Minha mãe sempre ajudou muita gente. Era ela quem cuidava de todo mundo da família. Nós sempre conversávamos sobre doação de órgãos e ela queria ser doadora. Essa é uma forma de mantê-la viva e de ajudar quem precisa”, conta a adolescente, de forma serena e consciente que a lição de amor que a mãe deixou ajudará na superação desse momento.
conesul