Mortes causadas pela Covid-19 desde março de 2020 chegaram a 282.400 nesta terça-feira (16), enquanto vítimas da Aids somam 281.156 óbitos desde 1996, segundo dados do Ministério da Saúde.
Em um ano, o número de mortes provocadas pela Covid-19 no Brasil superou nesta terça-feira (16) o total de vítimas da Aids desde 1996, segundo dados do Ministério da Saúde. Com o recorde de 2.798 mortes confirmadas em um único dia, o país chegou à marca de 282.400 óbitos por coronavírus nesta terça, superando as 281.156 mortes provocadas pela Aids no Brasil de 1996 a 2019, 23 anos.
A Aids foi a doença provocada por vírus ou bactéria que mais matou brasileiros de 1996 a 2019, à frente de outras patologias como tuberculose, meningite e doença de Chagas.
Os dados de vítimas da Aids são contabilizados pelo Ministério da Saúde desde 1996, embora o primeiro caso da doença no país tenha sido relatado em 1982. Os números mais recentes de mortes que tiveram como causa básica a doença provocada pelo vírus HIV são de 2019.
Ainda que os dados de 2020 não tenham sido divulgados, as mortes provocadas pela Aids anualmente estão em patamar estável, entre 10 mil e 12 mil óbitos por ano, desde 2008.
Já a mortalidade da Aids, ou seja, a proporção de mortes em relação ao total de casos confirmados da doença, está em queda: em 2008, o coeficiente de mortalidade bruto da Aids era de 6,2 mortes a cada 100 mil habitantes, índice que caiu para 5 mortes a cada 100 mil pessoas em 2019.
A médica Roberta Schiavon, integrante da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que a Aids geralmente não leva à morte diretamente, mas provoca uma imunodepressão que faz com que o paciente fique mais suscetível ao agravamento de outras doenças.
Mesmo nos casos em que a morte não ocorreu apenas por conta da Aids, a menção à doença ou ao vírus HIV em qualquer linha dos registros de óbito já é suficiente para a contabilização como uma morte provocada pela Aids.
“A Aids em si geralmente não é causa da morte, normalmente é uma toxoplasmose, uma infecção respiratória grave, ou seja, outras doenças associadas. Mas, quando a gente faz esse cálculo [de mortes provocadas pela Aids], a gente calcula desse jeito porque é muito raro que o HIV sozinho leve à morte. Ele pode até levar, mas geralmente há uma causa coadjuvante”, explica Schiavon.
Colapso por doença aguda
Ao contrário da Aids, que é uma doença crônica, com a qual o paciente precisa conviver por um período prolongado, a Covid-19 é uma doença aguda, que provoca os primeiros sintomas pouco depois da exposição ao vírus.
Por conta disso, o aumento no número de pessoas com Covid-19 sobrecarrega mais rapidamente o sistema de saúde, já que muitos dos contaminados registram sintomas ao mesmo tempo, apenas alguns dias após a infecção, explica Roberta Schiavon, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
“São doenças totalmente distintas, porque o vírus HIV, mesmo sem remédio, demora em média de 8 a 12 anos para se manifestar. Já a Covid-19 é uma doença aguda, então o período de incubação é menor, no máximo 14 dias após a contaminação, mas geralmente antes, com 4 ou 5 dias de exposição já aparecem os primeiros sintomas”, explica Schiavon.
“No caso da Covid, todas as pessoas manifestam ao mesmo tempo, e isso leva à sobrecarga de saúde. Nenhum sistema de saúde aguenta uma doença aguda neste nível de transmissão que temos hoje”, avalia.
Com essa pressão sobre o sistema de saúde, o Brasil passa pelo “maior colapso sanitário e hospitalar da história“, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) afirmou nesta terça-feira (16).
O monitoramento divulgado pela instituição aponta que 24 estados e o Distrito Federal estão com taxas de ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) do Sistema Único de Saúde (SUS) iguais ou superiores a 80%.
Para Schiavon, as ações de combate à Covid-19 propostas pela governo federal foram o oposto das medidas contra a Aids adotadas no Brasil nos últimos anos.
“O Brasil sempre teve muito orgulho, em infectologia, do seu programa de combate à Aids, o programa brasileiro sempre foi muito elogiado internacionalmente. Em relação à Covid está sendo justamente o contrário”, avalia a médica.
“As atitudes dos governantes fizeram o país ser o epicentro da epidemia no mundo. Todo o orgulho que a gente sustentou por tanto tempo se perdeu”, completa.
Fonte: G1