Aumento foi entre bebês até 1 ano e crianças entre 1 e 4 anos, além da taxa de mortalidade infantil, que subiu pela 1ª vez em 26 anos; pobreza é causa
A taxa de mortalidade infantil, relação entre o número de nascimentos e mortes de crianças até 1 ano de idade, teve alta inédita em 26 anos, desde que o programa de monitoramento do Ministério da Saúde foi criado. Além disso, houve aumento do número de mortes em duas faixas etárias: até 1 ano de vida e entre 1 e 4 anos.
A taxa foi de 14 mortes em cada mil nascimentos em 2016, o que representa um crescimento de cerca de 5% em relação ao ano anterior. Já em relação aos números absolutos, foram registradas 11.214 mortes de bebês até 1 ano de vida em 2016, ou seja, 200 a mais que 2015, e 17.426 mortes entre 1 e 4 anos, 830 adicionais.
“Isso é um fato inédito. Quando o número absoluto aumenta em uma situação que vem caindo, isso é grave. É a primeira vez que isso ocorre e chama muito a atenção”, afirma médica Fátima Marinho de Souza, diretora de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saude do Ministério da Saúde.
A pneumonia é o que mais mata crianças no Brasil, segundo a médica. “O que aumentaram foram as mortes por diarreia, pneumonia e influenza, que são as chamadas de mortes evitáveis pela OMS (Organização Mundial de Saúde)”, explica.
Mas o que mais chama a atenção, na opinião dela, são as mortes provocadas por desnutrição e diarreia. “A desnutrição não voltou a crescer, mas caiu menos em 2016. Havia caído de forma bem consistente nos últimos anos. Acredito que vamos ter o retorno da desnutrição”, afirma.
Em 2000, foram registradas 1.385 mortes de crianças de até 1 ano por desnutrição. O número caiu ao longo dos últimos 15 anos, chegando a 191 mortes em 2015. Isso implicou uma redução de 18% em relação a 2014. Já em 2016, 183 crianças morreram por desnutrição, o que representa uma diminuição de somente 4% em relação ao ano anterior.
Áreas de extrema pobreza são as mais afetadas
As regiões do Brasil mais afetadas pela mortalidade infantil são o semiárido nordestino e a região Norte, segundo o Ministério. “A mortalidade afeta o segmento extremamente pobre da população. Houve aumento de morte por diarreia. A água contaminada é uma fonte importante de risco. Por isso o problema se concentra onde a água é pior”, explica.
Em 2000, morreram 2.738 crianças por diarreia. Em 2015, foram 1.564 e, em 2016, 1.593. A diretora explica que o número de mortes por diarreia vinha reduzindo “fortemente” ao longo dos anos e que voltou a crescer associada à pneumonia, gripe e, principalmente, à desnutrição.
“Por incrível que pareça, até morte por tuberculose aumentou para menores de 1 ano, o que pode ser prevenido com vacina”, afirma.
Ela ressalta que houve 3 mortes de crianças com menos de 1 ano pela doença em 2015. Em 2016, esse número subiu para 13. “É um número pequeno, mas revela problemas como a falta de cobertura de vacinas e vai compondo um cenário de mortes evitáveis, e evitáveis por vacina”, diz. “Isso está relacionado à pobreza, principalmente à extrema pobreza”, completa.
O surto do vírus zika no país contribuiu para o aumento da taxa de mortalidade infantil porque reduziu os nascimentos em 2016, segundo a médica. “A taxa de mortalidade infantil é uma razão entre o número de mortos com menos de 1 ano de idade e o número de nascidos naquele ano, então se cair muito o nascimento a taxa aumenta. Foi dessa forma que a zika influenciou o aumento da taxa de mortalidade infantil”, explica.
Segundo o Ministério da Saúde, houve queda de 5,3% dos nascimentos em 2016, passando de 3 milhões para 2,8 milhões, redução de 159 mil nascimentos.
R7