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Brasileiros começam a usar droga de balada contra doença psiquiátrica

Eduardo Schenberg faz pesquisas com o MDMA associado à psicoterapia para ajudar pacientes que sofrem com transtorno de estresse pós-traumático

O MDMA é uma droga mais conhecida pelo uso recreativo em festas do que por seu potencial terapêutico, mas tem ajudado pacientes com estresse pós-traumático a terem mais qualidade de vida.

As letras são uma sigla do nome químico da molécula Metileno Dióxido Metil Anfetamina. Essa substância é mais conhecida por apelidos como MD, bala, ecstasy, Michael Douglas, pastilha ou só pela letra ‘E’.

Um novo modelo de tratamento para esse transtorno psiquiátrico está sendo estudado por médicos em vários países, inclusive por um brasileiro, que utiliza o MDMA associado com o acompanhamento psiquiátrico e psicológico.

“O MDMA tem vários potenciais terapêuticos, mas o principal, que vem sendo estudado com muita seriedade, é no tratamento de transtorno de estresse pós-traumático”, afirma Eduardo Schenberg, mestre em psicofarmacologia pela UNIFESP, doutor em neurociências pela USP, e pós-doutorado pela Imperial College de Londres.

O estresse pós-traumático é uma doença psiquiátrica que pode ser desenvolvida em pessoas que passaram por uma situação traumatizante. Em geral, casos de violência como estupros, sequestros e assaltos podem desencadear a transtorno.

“O transtorno de estresse pós-traumático é grave. Os pacientes têm uma alta taxa de suicídio, muitos pesadelos, ataques de pânico e dificuldades afetivas. Com o passar do tempo, esses sintomas pioram e não existe um medicamento específico para o tratamento”, explica Schenberg.

Eduardo Schenberg

Eduardo Schenberg

Divulgação

No tratamento convencional, as medicações são prescritas de acordo com os problemas apresentados como insônia, tensões musculares e depressão. Não existe ainda uma substância específica para tratar especificamente o problema psiquiátrico.

O pesquisador brasileiro iniciou os testes com o uso do MDMA para tratamentos psiquiátricos neste ano. Porém, os tramites para conseguir a autorização para importar a substância em 2014. Hoje, quatro pacientes utilizam a substância com acompanhamento médico após tentarem sem sucesso os caminhos tradicionais.

Terapia e MDMA
O paciente em tratamento toma uma cápsula contendo a substância e é acompanhado por um psiquiatra e um psicólogo, geralmente um homem e uma mulher. Os efeitos começam em cerca de 30 minutos duram de cinco a oito horas, dependendo do estado emocional da pessoa.

Ao concluir a sessão, a pessoa passa a noite no local e no dia seguinte faz uma nova consulta, desta vez sem a substância. No total, são 15 sessões de terapia, sendo que apenas três com o uso da droga.

“O MDMA é uma droga psicoativa que intensifica a percepção das emoções, facilita o raciocínio e desinibe o compartilhamento de experiência”, afirma Schenberg.

Nas pesquisadas realizadas fora do Brasil, a psicoterapia associada ao uso do MDMA foi um tratamento bem-sucedido em 70% dos casos, enquanto os medicamentos tradicionais são eficientes em 30% dos casos.

Nos EUA, a pesquisa está na fase 3, que a é a última antes de apresentar os dados às autoridades e pedir o registro do MDMA como medicamento. Os testes já foram realizados em centenas de pacientes e o registro deve ser feito em 2021 ou 2022, assim o tratamento poderá ser disponibilizado aos pacientes.

Consumo recreativo
Segundo o pesquisador, o uso recreativo da droga é problemático por causa da proibição. O usuário quando compra de maneira ilegal não sabe o que está comprando e qual é a concentração da substância.

“Não saber a dose que está sendo consumida é um problema. Existe um princípio da farmacologia que diz que veneno é a dose e não a substância. As pessoas precisam entender que não existe uma droga do mal e uma droga do bem”, explica

O MDMA não é uma droga que causa dependência e também não está relacionada com problemas de saúde ou violência. Os relatos do uso recreativo são de sensações boas e marcantes. Porém, essa não é a sensação dos pacientes em tratamento.

“O MDMA permite que a pessoa tome consciência dos seus sentimentos. Quem está em tratamento está magoada, culpada ou desesperada. A droga é usada para tentar ressignificar os episódios traumáticos”, comenta Schenberg.

A cura
Segundo o pesquisador, é comum as pessoas acharem que a droga mascará o problema com sentimentos bons, mas não é isso que acontece.

“Alguns pacientes foram acompanhados por até 4 anos depois do tratamento e a grande maioria foi curada, de acordo com os critérios internacionais. A taxa de sucesso foi de 70%, mas os outros 30% também tiveram melhoras significativas no quadro”

A psicoterapia com o auxílio do MDMA foi capaz pelo menos de diminuir a dosagem dos medicamentos receitados. Em alguns casos, a pessoa consegue inclusive retornar a ter uma rotina mais próxima do normal.

O Brasil e as drogas
O MDMA é uma substância que está na lista de controle especial pela Anvisa, o que significa que não podem ser fabricada comercializada, distribuída ou vendida sem autorização.

“As drogas podem ser um problema e Brasil transformou necessariamente em um problema. Violência, tiroteio e cadeia não resolvem o vício de ninguém. A repressão nunca foi capaz de acabar com o mercado ilegal e até pessoas que nunca usaram drogas morrem nessa guerra”, afirma Schenberg.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

R7

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