Um dia após dizer que acabou com a Lava Jato porque não há corrupção no governo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta quinta-feira (8) que “não dá motivos para a Polícia Federal (PF) investigar ministros” do seu governo.
“Não tenho dado motivo para a PF ir atrás dos meus ministros, diferentemente do que acontecia no passado. Isso é um compromisso nosso não apenas verbal ou de campanha, [mas que] vem se comprovando na prática essa forma de trabalhar”, disse Bolsonaro, que acrescentou que ajuda a PF ao nomear para os ministérios com base em critérios.
Bolsonaro participou no início da manhã desta quinta-feira de uma cerimônia de formação de agente, escrivão e papiloscopista da Polícia Federal, na Academia Nacional de Polícia, em Brasília.
“Nós temos o compromisso de combate à corrupção e eu tenho colaborado com a PF, ajudando bastante ao escolher ministros não por critério político ou por apadrinhamentos, mas por critério de competência”, afirmou o presidente.
Ele aproveitou a ocasião para fazer referência ao ex-ministro Sergio Moro, que deixou o Ministério da Justiça e Segurança Pública em abril e fez acusações contra Bolsonaro. “Temos aqui o ministro André Mendonça, da Justiça, que é muito, muito melhor do que o outro que nos deixou há pouco tempo”, considerou ele, que ainda classificou a troca na pasta como “em boa hora”.
O ministro André Mendonça destacou o “simbolismo” da presença de Bolsonaro na cerimônia e ressaltou que os avanços que têm sido feitos na PF acontecem com o aval do presidente. “Não é à toa que o presidente da República vem na abertura e encerramento do curso de formação dos senhores. Isso tem um simbolismo, eu não sei se na história republicana um presidente esteve na abertura e encerramento. É um simbolismo do que os senhores representam para o País. É um simbolismo do trabalho de vocês e é um simbolismo do que queremos fazer pela polícia Federal. Tudo isso que nós temos conversado, os avanços, nada é feito sem o aval do chefe máximo da nação”, afirmou o ministro.
Julgamento no STF
Nesta quinta-feira (8), o Supremo Tribunal Federal (STF) julga, a partir das 14h, se Bolsonaro vai prestar depoimento oralmente ou por escrito no inquérito que apura se ele tentou interferir politicamente na Polícia Federal. A sessão de hoje é a última a contar com a participação do ministro Celso de Mello, que se aposentará no dia 13 de outubro.
O processo foi aberto em maio e se baseia nas acusações de Moro de que Bolsonaro planejou interferir na PF. O presidente nega qualquer ingerência na corporação.
Ao deixar o ministério, Moro afirmou que havia sofrido pressão de Bolsonaro para alterar o comando de superintendências da Polícia Federal e para compartilhar relatórios de inteligência da corporação. O inquérito aberto no STF apura se as declarações de Moro são verdadeiras.
Lava Jato
Em evento nessa quarta-feira (7), Bolsonaro afirmou que acabou com a Lava Jato porque, segundo ele, não há mais corrupção no governo.
“É um orgulho, uma satisfação que eu tenho dizer para essa imprensa maravilhosa nossa que eu não quero acabar com a Lava Jato, eu acabei com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo”, disse Bolsonaro, sob palmas, em evento no Palácio do Planalto para lançamento do programa Voo Simples, de medidas para o setor aéreo.
“Sei que não é virtude, é obrigação”, afirmou o presidente, ao destacar que faz um governo de “peito aberto”.
Bolsonaro indicou o desembargador Kassio Nunes, do Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1), para a cadeira ocupada atualmente pelo decano do STF, Celso de Mello, que se aposenta na próxima semana.
Nunes é tido como garantista e conta no Supremo e no Congresso, respectivamente, com o respaldo de ministros e parlamentares críticos da Lava Jato.
Na solenidade no Planalto, sem citar o nome do desembargador, Bolsonaro fez uma defesa de suas indicações. “Quando eu indico qualquer pessoa para qualquer local, eu sei que é uma boa pessoa tendo em vista a quantidade de críticas que ela recebe da grande mídia”, ironizou.
O desembargador vai ser sabatinado pelo Senado no dia 21 de outubro e, se for aprovado, empossado a seguir como ministro do STF, a primeira indicação de Bolsonaro para a corte.
(Com informações da Reuters e Jéssica Otoboni, da CNN, em São Paulo)
Fonte: CNN Brasil