Horas após recusar medidas protetivas na Delegacia da Mulher de Porto Alegre nesta terça-feira, Michele Pires, de 35 anos, foi morta a tiros pelo ex-companheiro Alisson Frizon, 30, no corredor do apartamento para onde se mudou depois da separação. O autor dos disparos, que foi preso em flagrante, não aceitava o fim do relacionamento, segundo a delegada responsável pelo caso, Tatiana Bastos. No local, estavam o filho da vítima, de 12 anos, e amigos dela, que tinham ido para uma comemoração na sua nova residência.
De acordo com Bastos, a mãe de Michele procurou a delegacia no último dia 28 para denunciar as ameaças que o ex-companheiro da filha vinha fazendo, além das perseguições. Alisson, policial militar afastado, ia até o trabalho da vítima e também até o prédio dela. Os porteiros receberam a ordem inclusive de não deixá-lo mais entrar.
O relacionamento do casal chegou ao fim na metade do ano, quando ele foi preso por envolvimento com o tráfico de drogas. Ao longo dos últimos seis meses, estava respondendo a um procedimento disciplinar na Brigada Militar do Rio Grande do Sul. A delegada afirmou que Michele quis se separar quando o caso veio à tona. Alisson, porém, não aceitou.
A polícia passou duas semanas ligando para a vítima, pedindo que ela fosse até a Delegacia da Mulher registrar ocorrência pelas ameaças e perseguições. A mulher aceitou conversar com Bastos nesta terça-feira, mas recusou as medidas protetivas e um abrigo para ficar enquanto estivesse correndo risco de morte.
— A mãe dela narrou que ele procurava Michele na saída do trabalho, na casa dela, e a ameaçava de morte. Tentamos contato com ela, mas vinha recusando, até que ontem acabou vindo. Demos orientações do abrigo, um lugar seguro, e das medidas protetivas que a Lei Maria da Penha oferece. Vimos que estava numa situação de risco, mas ela não tinha interesse e disse que não estava se sentindo ameaçada — contou a delegada.
Para Bastos, é fundamental alertar as mulheres de violência doméstica a não se calarem sobre o que está acontecendo.
— Nós que trabalhamos com isso conseguimos detectar essa situação de risco e tentamos tirar a vítima do círculo de violência. Muitas vezes elas se calam por medo de represálias do marido ou do ex. Não é fácil denunciar. É um processo muito complexo, mas é importante ver que o silêncio é o maior cúmplice da violência. Isso acabou custando a vida dela (Michele) — ressaltou.
Bastou disse ainda que pediu que a Justiça converta a prisão em flagrante de Alisson em preventiva.
Ele invadiu o prédio da ex-companheira após pular a grade. Entrou no edifício e subiu até o andar do apartamento, onde não havia ninguém, pois Michele estava com o filho e os amigos no salão de festas, comemorando a nova vida na casa nova. Quando o grupo subiu, Alisson atirou quatro vezes. Três disparos atingiram a vítima na região da cabeça e do pescoço. No momento do ataque, ela chegou a empurrar o filho para dentro de casa.