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Máfia do Cigarro cooptou serviço reservado e manipulava escala da PM

Documentos obtidos pelo Campo Grande News mostram que tentáculos da organização criminosa atingiam até setor de inteligência da Polícia Militar na região de Dourados.

Caminhão da quadrilha de Ângelo Ballerini, apreendido pela PRF com cigarro paraguaio (Foto: Divulgação)

A Máfia do Cigarro que atua na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai pagava propina para agentes do serviço reservado da Polícia Militar e interferia até na escala de trabalho da PM.

Interior 08/01/2019 11:20 Máfia do Cigarro cooptou serviço reservado e manipulava escala da PM Documentos obtidos pelo Campo Grande News mostram que tentáculos da organização criminosa atingiam até setor de inteligência da Polícia Militar na região de Dourados Helio de Freitas, de Dourados Imprimir Enviar por E-mail Caminhão da quadrilha de Ângelo Ballerini, apreendido pela PRF com cigarro paraguaio (Foto: Divulgação) Caminhão da quadrilha de Ângelo Ballerini, apreendido pela PRF com cigarro paraguaio (Foto: Divulgação) A Máfia do Cigarro que atua na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai pagava propina para agentes do serviço reservado da Polícia Militar e interferia até na escala de trabalho da PM.

Conhecido como “P2” por fazer parte da Segunda Seção da corporação, o grupo trabalha à paisana, muitas vezes com homens infiltrados, para investigar a atuação dos criminosos.

Mas integrantes do serviço reservado foram cooptados pela organização criminosa liderada por Ângelo Guimarães Bellerini, o “Alemão”, Valdenir Pereira dos Santos, o “Perna”, Carlos Alexandre Gouveia, o “Kandu”, e Fábio Costa, o “Pingo”, um ex-policial militar que virou criminoso.

Alemão, Perna e Kandu estão presos desde setembro do ano passado, quando foi deflagrada a Operação Nepsis, da Polícia Federal. Pingo está escondido no Paraguai.

A ação penal está em segredo de justiça, mas o Campo Grande News teve acesso a trechos da denúncia do MPF (Ministério Público Federal) e da decisão da Justiça Federal que decretou a prisão preventiva da quadrilha.

Nos documentos, a Polícia Militar é chamada de “pé preto” e há referências aos codinomes “P2 Peixe”, “Douradina” e “Escala Bug”. Policiais civis também são citados com o codinome “Civil”.

“P2” é a segunda seção do batalhão (serviço reservado), “peixe” é o codinome para Dourados, “Douradina” é uma referência aos policiais lotados na cidade de mesmo nome e “escala Bug” seria o codinome usado para tratar das propinas pagas para manipular a escala de serviço da Polícia Militar. Caarapó aparece como “Cipó”. Policial pagador – As investigações mostram que o elo da quadrilha com policiais corruptos era o PM Joacir Ratier de Souza, também preso na operação de setembro e atualmente no Presídio Militar em Campo Grande.

Ligado a Fábio Costa, o Pingo, Ratier é tratado nas investigações como “policial garantidor pagador”, ou seja, tinha a missão de garantir a passagens dos carregamentos de cigarro contrabandeado e pagar a propina aos colegas.

Preso com dinheiro – No dia 16 de abril do ano passado, Joacir Ratier seguia pela BR-463 em um Ford Ka sedan, placa PVX-8673, quando foi preso por policiais federais no Posto Pacury, no município de Ponta Porã.

Viajando na companhia do primo, o servidor da Prefeitura de Dourados Samuel Miguel Raidan, Joacir Ratier transportava R$ 90 mil escondidos em um compartimento secreto no câmbio do carro. Samuel carregava mais R$ 4 mil na cintura.

O PM disse que o dinheiro era de um “patrão”, dono de uma transportadora, e que tinha sido contratado para levar a quantia até Dourados. Samuel contou ter sido convidado pelo primo para acompanhá-lo na missão e que o dinheiro foi entregue a Ratier em uma rua perto do Studio Center, em Pedro Juan Caballero.

Codinomes – De acordo com informações obtidas pelo Campo Grande News, o dinheiro encontrado com Joacir Ratier tinha sido entregue pelo “patrão” dele, Fábio Costa, o “Pingo”, para pagar propina a policiais de Dourados e de Douradina.

O objetivo era garantir passagem livre para caminhões carregados de cigarro paraguaio que sairiam da fronteira naqueles dias.

O dinheiro estava em pacotes amarelos, marcados com os codinomes “P2 Peixe”, “Douradina” e “escala BUG”.

A investigação descobriu que Ratier fazia o transporte de propina paga pela organização criminosa, “para ele e para distribuição entre as forças policiais da região onde atua”, afirma trecho da denúncia do MPF.

Ainda segundo a denúncia, os pacotes de dinheiro encontrados com Joacir Ratier eram semelhantes a outros pacotes, apreendidos em setembro de 2017 com Cleberson José Dias, um dos gerentes da quadrilha.

Cleberson estava com R$ 98 mil quando foi preso, em Naviraí. O dinheiro seria para pagamento de propinas. Ele chegou a oferecer R$ 10 mil aos policiais rodoviários federais que o prenderam para escapar do flagrante.

“Joacir Ratier de Souza é o policial garantidor pagador responsável pela distribuição de propinas da organização criminosa à Polícia Militar da região de Dourados. É o braço direito de Fábio Costa, com quem nutre sentimento de subordinação”, afirma trecho da denúncia.

Escala da PM – A decisão da Justiça Federal pela prisão preventiva da quadrilha também detalha a atuação da quadrilha e reforça a posição de relevância de Joacir Ratier no contato com colegas de farda lotados na região de Dourados.

Até na escala de serviço da PM a quadrilha interferia, para que policiais do esquema fossem colocados para trabalhar nos pontos de passagem das cargas.

Na decisão em que decretou a prisão preventiva da quadrilha, a juíza federal substituta da 2ª Vara Federal em Ponta Porã, Dinameme Nascimento Nunes, cita que parte do dinheiro apreendido com Joacir Ratier, em abril do ano passado, era separado para que os serviços de escala de policiais “bons” e “ruins” fossem ordenados de modo a favorecer a organização.

Pé Preto – Trecho de uma escuta telefônica citada no processo mostra diálogo entre dois integrantes da quadrilha, um deles identificado como Aldemir Napolitano, o “Napola” e o outro identificado apenas como “Batata”, ocorrida no dia 4 de outubro de 2017.

A conversa era sobre o envio de um carregamento de cigarro paraguaio e sobre a fiscalização nas estradas e cidades da região.

“Já embarquei, já, viu? Quem vai tá lá no Cipó [Caarapó]?”, pergunta Napola. “Cipó, ninguém, o Rosca no Peixe [Dourados]”, responde Batata.

Napola se mostra surpreso: “Cipó ninguém, vai passar direto?” Batata responde: “passar direto”. E completa: “e caso o Pé Preto [PM] ou a Civil [Polícia Civil] parar lá, pode falar que é do Ratier ou do Pingo”.

O Campo Grande News procurou o serviço de comunicação da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, que solicitou o pedido de informações por e-mail, para se manifestar posteriormente sobre as denúncias.

Ameaças a PRFs – No dia 28 de dezembro do ano passado, o Campo Grande News revelou que policiais rodoviários federais vinham sendo ameaçados pela quadrilha para reduzir a repressão aos carregamentos de cigarro contrabandeado.

O inspetor-chefe da PRF em Dourados Waldir Brasil Junior e o policial rodoviário federal Charles Fruguli Moreira entraram na mira da organização criminosa.

A casa do inspetor em Dourados foi metralhada em abril de 2017 ao mesmo tempo em que a quadrilha planejava matar Charles e até sequestrar o filho dele como retaliação pelo fato de o PRF ter “derrubado” pelo menos 30 carregamentos de cigarro paraguaio.

As investigações da Operação Nepsis continuam. Em novembro, a Justiça Federal determinou a transferência de Ângelo Ballerini para o Presídio Federal de Mossoró (RN), onde já estavam seu irmão José Carlos e Valdenir Pereira dos Santos, o “Perna”.

Alemão estava preso no presídio estadual em Ponta Porã, mas foi levado inicialmente para o Presídio Federal em Campo Grande após ser descoberto um plano para resgatar a cúpula da quadrilha.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

campograndenews

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