“Sim! Eu estava grávida de 9 meses, exatos 9 meses! 9 meses menstruando; 9 meses tomando meu anticoncepcional; eu não senti o bebê mexer, meus pés não incharam, minha barriga também não”. O relato de Eduarda Barbosa, 18 anos, que trabalha como operadora de caixa em São Paulo, chamou atenção nas redes sociais. Tanto que o post teve mais de 44 mil compartilhamentos. “Muitas mulheres me mandam mensagens perguntando como foi o meu ciclo menstrual, se houve corrimentos ou sintomas. O que eu mais senti foi azia, mas como eu sempre tive e a menstruação estava em dia, nunca imaginei que pudesse estar mesmo grávida”, afirma.
Em entrevista à CRESCER, ela disse que até engordou um pouco, mas como sempre sofreu com o “efeito sanfona”, não acreditava que pudesse ser gravidez. “Sempre pesei 60 kg. Um pouco antes de ele nascer, me pesaram e eu estava com 64 kg”, conta. Até que no dia 19 de maio de 2019, o “milagre chegou”, como diz Eduarda. “Eu estava morrendo de dor. Para mim, era cólica renal, pois já tive pedra nos rins e a dor era a mesma. Tomei remédio na veia e nada da dor passar, então fui fazer um ultrassom. Em estado de choque, parei, fiquei pálida, era um coração batendo”, conta. “Para a médica, eu estava dando à luz um prematuro. Para as enfermeiras, eu estava abortando. Mas graças a Deus, não era nada disso. Era o meu milagre chegando. Sim, milagre! Ninguém na sala de parto acreditou que eu estava realmente de 9 meses”, completou.
PARTO DE 5 MINUTOS
Mas as surpresas não param por aí. Eduarda conta que o trabalho de parto durou apenas 5 minutos. “Sim, só 5 minutos! Entrei na sala 5h30 da manhã e 5h35 meu filho nasceu. Ele nasceu sem a bolsa estourar, pois já não havia líquido! Nasceu pesando 2.895 e medindo 46 centímetros”, lembra. Apesar de Eduarda não ter feito o pré-natal, o pequeno Derick, que hoje está com 8 meses, chegou sem nenhuma intecorrência. “Durante a gravidez, eu peguei muito peso e fiz muito esforço por conta da mudança que minha sogra fez e eu ajudei. Mas ele apenas ficou em observação por uma semana para que os médicos se certificassem que realmente estava tudo bem com ele”, diz.
O caso obviamente chocou a família e até os médicos. “Ficávamos tentando imaginar como ele estava aqui. Como não mexeu de uma forma que eu pudesse sentir?”, questiona-se a mãe. “Não escondemos de ninguém, não tínhamos porque esconder, seria burrice esconder da nossa família, não fazer chá de bebê e nem pré-natal. Jamais faria algo assim! Jamais faria isso com o meu filho e com a minha família”, disse ela.
A REAÇÃO DO MARIDO
“Meu marido, (risos) tadinho! No dia 18, nós tínhamos uma festa familiar, só que como eu não estava me sentindo bem, falei para ele ir e disse que ficaria em casa, descansando. Como não melhorei, pedi para o meu pai me levar na UPA. Então, quando não suportava mais a dor, da UPA fomos ao hospital, onde eu teria mais agilidade nos exames para descobrir o que tinha. As 5h20, assim que fizemos o ultrassom e descobrimos sobre a gravidez, meu pai ligou para o meu marido. Ele ficou em choque e continuo até chegar no hospital. Quando foi me ver na sala, eu já tinha ganhado o Derick. Até então, ele não sabia que era um menino. Quando soube, chorou horrores e me agradeceu”, lembra.
“Agora somos quatro”, comemorou Eduarda, que mora com o marido e a enteada de 2 anos e 4 meses. “No dia em que cheguei com o Derick, ela ficou super encantada, queria pegar e dar beijo. Ela sempre amou bebês, então, não foi nenhum problema. Hoje, ela me ajuda muito com o irmão”, diz. “Agora, alguém necessita de mim. Agora, minha vida faz mais sentido. Meu sonho se realizou, meu príncipe chegou! Demorou horas para a minha ficha cair, mas caiu e estamos em festa! A família cresceu”, finalizou.
POR QUE ISSO ACONTECE?
Segundo o ginecologista e obstetra Gabriel Costa, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), na maioria dos casos, a menstruação irregular é o que acaba dificultando o reconhecimento precoce da gravidez, pois a falta dela não causa desconfiança. Sobre o fato de não sentir o bebê mexendo, o obstetra Alexandre Pupo Nogueira, do Hospital Sírio Libanês (SP), explica que “existem casos em que a mulher até sente, mas atribui isso a outros fatores, como um movimento do intestino, por exemplo”.
Além disso, segundo os especialista, existe a questão da “negação”, que é um mecanismo de defesa totalmente inconsciente. “É uma resposta àquela situação com a qual a mulher não consegue lidar naquele momento. Na tentativa de fugir desse conflito, ela acaba interpretando a realidade de um jeito distinto. Tudo o que possa levar a uma confirmação da gravidez é negado, rejeitado, relevado”, explica Cristiana Julianelli, psicóloga e psicanalista especializada no atendimento de gestantes (SP).
Independentemente de ser uma gravidez desejada ou não, após a descoberta, é importante que a mãe tenha acompanhamento psicológico e possa contar com uma sólida rede de apoio, afinal, é muita informação para pouquíssimo tempo. Muitas delas se preocupam com a saúde do bebê, remoendo a ausência do pré-natal e culpando-se por terem seguido uma vida sem restrições — muitas vezes, consumindo álcool, tabaco ou medicamentos contraindicados. “O pré-natal realmente previne uma série de complicações e reconhece situações de risco. Não fazê-lo, assim como não ter seguido as orientações médicas, pode ser muito grave para mãe e filho, mas, felizmente, a maioria dos casos evolui bem”, tranquiliza Gabriel Costa.
Fonte: Crescer/globo