Já se passaram dois anos desde o aparecimento dos primeiros casos de bebês com microcefalia causada pelo vírus da Zika.
O surto, que começou no Nordeste, mas fez vítimas em outras regiões, assustou os brasileiros, especialmente as gestantes ou as mulheres quem pensavam em engravidar.
Só para lembrar, à época, graças a alertas de médicos, o Ministério da Saúde comprovou a relação da microcefalia, que é um sinal de alterações no cérebro, com o vírus Zika, transmitido principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo transmissor da dengue. Um número importante de bebês começou a nascer com essa malformação.
A bancária Isabel Albuquerque é personagem dessa história. No dia 9 de setembro de 2015 ela deu à luz ao Matheus.
Os exames de pré-natal não acusaram a microcefalia. Só na hora do parto, o médico deu a notícia e dias depois ela recebeu alta e foi procurar na internet o que podia ter causado essa alteração.
A suspeita de problemas genéticos caiu por terra quando o hospital ligou dizendo que Matheus poderia ter sido um dos primeiros casos relacionados ao vírus Zika. E foi mesmo.
“Em menos de um mês (do nascimento) começaram a surgir outros casos, e depois a ligação com o Zika. Foi aberto todo aquele protocolo de investigação, ficou um hospital referência só tratando disso, foi muito noticiado. Todos os exames foram repetidos”, conta a mãe do pequeno Matheus, hoje com dois anos e um mês.
Isabel lembra também que o primeiro sentimento após a descoberta foi de revolta, porque não se tratava de genética e sim de um agente externo. “Algo que mudou a vida de mais de 400 famílias só aqui em Pernambuco”, destaca.
Segundo Isabel, estes dois anos foram árduos, com uma agenda lotada de atividades terapêuticas, entre outras ações pelo estímulo e aprendizado do Matheus.
Contudo, para ela, tudo vale a pena para que ele tenha qualidade de vida. “Desde um mês de vida ele fazia a estimulação precoce e isso fez e faz muita diferença na vida dele.
Hoje ele já senta, já está dando as primeiras passadas. A gente tem o cuidado de fazer da casa uma extensão dessas terapias. O importante é a gente proporcionar o melhor pra ele”, comemora Isabel.
Mitos e verdades sobre a Microcefalia/Zika
Uma das médicas responsáveis pela observação dos primeiros casos e por avisar as autoridades sanitárias foi a neuropediatra Vanessa Van Der Linden.
Ela achou incomum a quantidade de casos de microcefalia, num curto espaço de tempo, em Pernambuco e em outros estados nordestinos e passou a investigá-los. “A gente aprendeu muito sobre essa doença nestes dois anos.
Mas, tem muita coisa que a gente precisa entender. Vamos avaliar essas crianças pra saber o que aconteceu nestes dois anos, o que houve de diferente, quais foram os avanços e consequências para de fato poder ajudar essas famílias”, afirma.
O Blog da Saúde conversou com o tecnologista da Coordenação-Geral de Vigilância e Resposta às Emergências em Saúde Pública do Ministério da Saúde e doutor em Epidemiologia, Giovanny França, e preparou informações sobre o tema:
VERDADES
O surto não foi apenas de microcefalia
A microcefalia é um sinal presente quando o cérebro não se desenvolve como o esperado. Em causas graves, pode estar associado a deficiências respiratórias, neurológicas ou motoras.
Ela pode acontecer pela infecção por outros vírus e por outras causas não infecciosas, não exclusivamente pelo vírus Zika.
Mas é importante deixar claro que, além da microcefalia, os bebês infectados pelo vírus Zika durante a epidemia manifestaram outros sintomas.
Por exemplo, foram diagnosticados casos de bebês com formação cefálica dentro do normal, mas com outros tipos de sequelas deixadas pela Zika.
Por isso, o Ministério da Saúde passou a tratar os casos como “Síndrome Congênita do Zika Vírus” e não somente como microcefalia.
A epidemia afetou principalmente gestantes e bebês
A epidemia aconteceu por causa de mães que foram infectadas pelo vírus Zika ainda na gestação – a maioria delas nem souberam por não terem tido sintomas.
O aumento inesperado do número de casos de microcefalia, identificado na região Nordeste, fez com que o Ministério da Saúde decretasse a Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN).
A pasta também recomendou, na época, que as mulheres que pudessem, adiassem a gravidez. Gestantes precisam redobrar o cuidado para não serem vítimas do mosquito Aedes aegypti, especialmente nos três primeiros meses de gestação, independente de surto ou da região onde ela viva.
O Ministério da Saúde recomendou mudanças no pré-natal por conta da epidemia
O Ministério da Saúde passou a recomendar uma segunda ultrassonografia no pré-natal, de acordo com critérios clínicos de gestantes suspeitas de Zika, para identificar alterações neurológicas precocemente durante a gestação.
Assim, o exame poderá ser recomendado para ampliar a capacidade de diagnóstico de anomalias congênitas, especialmente as provocadas pela Síndrome Congênita associada à infecção pelo vírus Zika, durante a gestação por volta do sétimo mês de gravidez.
O SUS criou uma Rede de Atenção aos nascidos com a Síndrome Congênita associada ao Zika
Existe uma rede de 2.323 serviços de reabilitação vinculada ao SUS para assistência às pessoas com deficiência, entre elas as crianças diagnosticadas com microcefalia e com alterações no crescimento e desenvolvimento
. Estas unidades contam com as modalidades auditiva, visual, intelectual, física e múltiplas deficiências. São 190 Centros Especializados em Reabilitação (CER) que trabalham a estimulação precoce e a reabilitação dos bebês; 33 Oficinas Ortopédicas; 238 serviços de reabilitação em modalidade única; 1.862 serviços de reabilitação credenciados pelos gestores locais; 4.375 Núcleos de Apoio à Saúde da Família, que apoiam o atendimento da estimulação precoce e 2.340 Centros de Apoio Psicossocial, presentes em todos os estados do Brasil, que atendem as famílias das crianças.
O Ministério da Saúde adotou ações emergenciais
A epidemia motivou a intensificação das ações de combate ao mosquito Aedes aegypti nos estados e municípios.
O governo federal adotou o Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia – atualmente chamado de Plano Nacional de Enfrentamento ao Aedes e suas Consequências. As ações eram de: mobilização e combate ao vetor, cuidado e desenvolvimento tecnológico, educação e pesquisa.
No âmbito da vigilância, foram feitas ações como o combate ao vetor por meio de visitas aos domicílios para eliminação de focos de larvas, distribuição de veículos, larvicidas e inseticidas, e mobilização da população. Os estados receberam suporte laboratorial e capacitação para diagnóstico da Zika.
MITOS
As famílias afetadas pelo surto estão desamparadas
Mito! Por meio da articulação com o Ministério do Desenvolvimento Social e o INSS, o Ministério da Saúde garantiu a priorização da demanda para concessão do Benefício de Prestação Continuada para os casos relacionados com a Emergência de Saúde Pública.
Mais de 2.200 benefícios já foram concedidos às famílias de crianças nascidas a partir de janeiro de 2015. O BPC é destinado às pessoas com deficiência que não podem trabalhar e levar uma vida independente.
As pesquisas sobre a relação Zika e Microcafalia terminaram
Mito! Quanto ao financiamento de pesquisas, 25 propostas foram contratadas pelo Ministério da Saúde diretamente e 71 por meio de Chamada Pública, totalizando um investimento de aproximadamente R$ 250 milhões para pesquisa, sobre temas como vacinas; diagnóstico; controle vetorial; vigilância; epidemiologia; fisiopatologia; clínica e imunologia.
Não existe vacina contra a Zika em teste
Mito! Para evitar novo surto, uma das ações desenvolvidas pelo governo brasileiro é o desenvolvimento de uma vacina contra a Zika.
O Instituto Evandro Chagas (IEC) já teve fez testes em animais e constatou o sucesso na proteção de filhotes durante a gestação das fêmeas. Os testes em humanos devem acontecer em 2019, na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Casos de microcefalia estão relacionados ao uso de vacinas estragadas
Mito! Todas as vacinas ofertadas pelo Programa Nacional de Imuização são seguras e não há nenhuma evidência de que possam causar microcefalia.
O controle de qualidade das vacinas é realizado pelo laboratório produtor obedecendo a critérios padronizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Após aprovação em testes de controle do laboratório produtor, cada lote de vacina é submetido à análise no Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde do Ministério da Saúde.
Desde 1983, os lotes por amostragem de imunobiológicos adquiridos pelos programas oficiais de imunização vêm sendo analisados, garantindo a segurança, potência e estabilidade, antes de serem utilizados na população.
A epidemia acabou e estamos livres da possibilidade de novos surtos
Mito! Um importante aprendizado desta epidemia foi o trabalho integrado entre diversos setores e áreas. A manutenção desta articulação e integração poderá nos apoiar para o caso de uma nova epidemia, seja na detecção precoce de algum evento epidemiológico fora do padrão, seja para a produção da resposta assistencial em tempo oportuno para diagnóstico ou para o melhor encaminhamento ao cuidado.
Saiba mais sobre as ações do Ministério da Saúde e como contribuir para o combate ao Zika e outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti em www.combateaedes.saude.gov.br.
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