Enquanto o Ministério da Saúde recomendou (16/9) que adolescentes sem comorbidades não sejam vacinados no Brasil, diversos países ao redor do mundo estão vacinando seus adolescentes e crianças.
Ao anunciar a decisão, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que havia dúvidas sobre a segurança da imunização dos jovens. Em transmissão ao vivo nas redes sociais nesta quinta, Queiroga disse que partiu do presidente Jair Bolsonaro o pedido de reavaliar a orientação.
Especialistas criticaram a decisão. O Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) e o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) emitiram nota manifestando “profundo lamento” em relação à decisão do Ministério da Saúde e pedindo um posicionamento da Anvisa, que já havia autorizado a vacinação com o imunizante da Pfizer em jovens de 12 a 17 anos.
“Ao implementar unilateralmente decisões sem respaldo técnico e científico, coloca-se em risco a principal ação de controle da pandemia”, diz a nota.
A orientação dividiu municípios e Estados, com várias capitais decidindo manter a vacinação desta faixa etária, como São Paulo e Rio de Janeiro, apesar da recomendação do Ministério da Saúde.
A Anvisa informou que investiga suspeita de reação adversa grave com vacina da Pfizer, mas que não existem até o momento “evidências que subsidiem ou demandem alterações nas condições aprovadas para a vacina”.
Países vacinando adolescentes
Na Europa, diversos países começaram a vacinar seus adolescentes depois que a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) aprovou em maio a vacina Pfizer para adolescentes de 12 a 15 anos.
A Dinamarca já vacinou a maioria de sua população jovem, de 12 a 15 anos, com pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19. A Espanha também vacinou a maioria da população de 12 a 19 anos com ao menos uma dose.
Na França, 66% dos jovens de 12 a 17 anos foram vacinados com uma dose, e 52% estão totalmente vacinados. Em outubro, o passe sanitário, que comprova a vacinação, será estendido para menores de 18 anos.
Isso significa que todos os adolescentes precisarão mostrar um comprovante de vacinação ou um teste negativo de covid-19 para acessar locais como cinemas, museus, restaurantes e shopping centers fechados.
Na Alemanha, a Comissão Permanente de Vacinação inicialmente recomendou vacinas só para jovens entre 12 e 15 anos com doenças crônicas. Mas em agosto, depois que a variante Delta começou a se espalhar rapidamente, a comissão recomendou que todos os jovens acima de 12 anos de idade sejam vacinados contra o coronavírus, dizendo que os benefícios da vacina superam os riscos para a faixa etária. A comissão também destacou que crianças corriam um risco maior de pegar covid-19 durante uma possível quarta onda de infecções da Delta.
Na Suécia, adolescentes de 12 a 15 anos só são elegíveis para a vacina se tiverem doença pulmonar, asma grave ou outra condição médica de alto risco.
Na Noruega, a vacinação foi recentemente estendida para crianças de 12 a 15 anos, mas apenas a primeira dose será oferecida. A decisão sobre a segunda dose será tomada posteriormente.
A decisão de vacinar adolescentes se deu nesta semana no Reino Unido, onde jovens que tenham entre 12 e 15 anos receberão uma dose da vacina Pfizer.
As autoridades de saúde dos Estados Unidos e do Canadá foram as primeiras a aprovar a vacina da Pfizer para adolescentes a partir de 12 anos, em maio. A vacinação começou em alguns locais nos Estados Unidos imediatamente – duas doses foram administradas com três semanas de intervalo.
No final de julho, 42% dos jovens de 12 a 17 anos haviam recebido a primeira dose e 32% a primeira e segunda doses das vacinas da Pfizer ou Moderna. A decisão de vacinar crianças também surgiu quando os Estados Unidos começaram a lutar contra o aumento das infecções causadas pela variante Delta.
O último relatório do CDC (Center for Disease Control dos EUA) disse que o número de crianças hospitalizadas com covid-19 foi entre 3,4 a 3,7 vezes maior nos Estados americanos com cobertura de vacinação mais baixa.
Algumas escolas americanas decidiram tornar a vacina obrigatória para que crianças maiores de 12 anos possam assistir às aulas, apesar das objeções de alguns pais.
Em Los Angeles, a decisão foi recentemente estendida para 600 mil alunos. Em Nova York, os funcionários das escolas, mas não os alunos, devem ser vacinados.
A Pfizer também começou a testar sua vacina contra a covid-19 em crianças mais novas. Os primeiros resultados, na faixa etária de cinco a 11 anos, são esperados para setembro. Os dados para crianças de seis meses a quatro anos devem ser divulgados até o final do ano.
O presidente dos EUA, Joe Biden, já indicou que as vacinas para essa faixa etária mais jovem devem estar disponíveis “em breve”, depois que reguladores revisarem os dados clínicos.
Já a China aplicou a Coronavac (vacina produzida pela farmacêutica Sinovac) a algumas crianças a partir de três anos.
O país estabeleceu uma meta aproximada de vacinar 80% de sua população de 1,4 bilhão até o final do ano, um número impossível de atingir sem contemplar também um grande número de menores de 18 anos.
Em teoria, a vacina contra a covid-19 é voluntária na China, embora alguns governos locais tenham dito que os alunos não terão permissão para voltar à escola neste semestre a menos que sua família inteira tenha sido vacinada com duas doses.
A Coronavac também é amplamente utilizada em muitos países da Ásia, África e América do Sul, como o Brasil.
No Chile, já foi aprovada para uso em crianças a partir de seis anos. Na África do Sul, a vacina começou a ser testada em crianças com idade entre seis meses e 17 anos.
Cuba, por sua vez, começou no início do mês a vacinação em crianças de dois a 18 anos com as vacinas produzidas no país, tornando-se o primeiro país do mundo a imunizar crianças tão pequenas. A campanha será feita em etapas para viabilizar a volta às aulas.
Maior população de adolescentes do mundo
Acredita-se que a Índia tenha a maior população de adolescentes do mundo, estimada em cerca de 253 milhões pelo Unicef. Os dados oficiais mais recentes sugerem que cerca de 60% das crianças foram expostas ao coronavírus desde o início da pandemia e provavelmente desenvolveram alguma imunidade contra infecções anteriores.
Em agosto, o regulador de medicamentos do país concedeu o uso emergencial de uma nova vacina desenvolvida pela empresa farmacêutica local Zydus Cadila em todos os maiores de 12 anos – primeira aprovação no país que inclui crianças.
A vacina precisa ser dada em três doses separadas usando um aplicador sem agulha, em vez de uma seringa tradicional. A empresa disse que espera iniciar em breve os testes em crianças menores de dois anos ou mais.
Conselheiros sanitários do governo disseram que a vacinação para crianças de 12 a 17 anos com comorbidades deve começar em outubro, mas uma implementação mais ampla só acontecerá depois que a campanha para adultos na Índia for concluída. Atualmente, a previsão é que aconteça até o final do ano.
Fonte: BBC News