Em mensagens, Edilsio Morais, 18 anos, contou que fazia muitos exercícios e dormia pouco
O aspirante a oficial do Exército Brasileiro, Edilsio Morais da Silva Filho, 18 anos, que morreu na última quarta-feira (16), após uma sequencia de atividades físicas no 9º Batalhão de Engenharia de Combate de Aquidauana, relatou à família, através de aplicativo de mensagens, a rotina exaustiva e punições que sofreu durante os 3 dias em que permaneceu no batalhão.
O jovem foi aprovado na seleção para o curso de oficias temporários do NPOR (Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva) e ingressou no serviço militar na segunda-feira (14) e, desde o primeiro dia, foi submetido à exaustão física e punido por um pequeno atraso.
Print de mensagens trocadas com a mãe. (Imagem: Reprodução)
“Oi mãe acabei de tomar banho e lavar roupa, hoje foi doido. Teve um momento em que deram 30 segundos para ir no alongamento e voltar para a formação. Atrasei um segundo e mandaram fazer uma redação de 50 linhas”, narrou o militar em troca de mensagens com a mãe, por volta das 23h25 do seu primeiro dia no batalhão.
Na madrugada do dia 15, por volta das 2h20, o jovem avisa a mãe que estava indo dormir e que teria pouco mais de 1 hora de repouso. Às 3h35, ele manda mensagem outra vez, dizendo que conversaria novamente no final do dia. “Acordei! Me arrumando para a faxina, volto 10 horas novamente, beijos te amo”.
Como prometido, Edilsio voltou a trocar mensagens com a mãe às 21h39 do segundo dia de treinamento militar. “Foi difícil. Tava torando (que é dormir na língua do Exército), aí você tem que fazer flexão e tal. A hora não passa”, conta.
Continuação de mensagens trocadas entre o militar e a mãe. (Imagem: Reprodução)
A mãe questiona se o filho poderia dormir naquele momento, mas o militar afirma que tomou outra punição por estar com a meia furada. “Não, tenho que fazer outra redação, 50 linhas. Uma das meias que a senhora bordou tava rasgada, eles viram e tomei punição”. Sem imaginar que seria a última mensagem que trocaria com a mãe, Edilsio ainda pede ajuda para fazer o texto. “A senhora pode me ajudar?”.
Na madrugada, o militar ainda enviou um vídeo do alojamento para a mãe, mostrando outros colegas se exercitando e escrevendo no escuro, com auxílio da lanterna.
Na quarta-feira (16), Edilsio foi submetido a uma nova bateria de exercícios pela manhã, durante corrida, começou a passar mal com batimentos cardíacos acelerados. Ele foi encaminhado ao Hospital Regional de Aquidauana, com quadro de exaustão muscular e conforme atestado de óbito, morreu às 18h50.
Segundo tio do militar, Jean Ricardo Brites de Assunção, 47 anos, a morte do sobrinho é consequência da rotina exaustiva obrigatória do Exército. “O curso de oficial é exaustivo, o calor em Aquidauana é muito grande, eles são colocado no sol quente para fazer exercícios físicos, a água não é na quantidade que cada um quer tomar, a alimentação, apesar de ser de qualidade, é bem restrita e sempre com os oficiais apurando, não deixando eles comerem direito”, lamenta o familiar.
As circunstâncias da morte estão sendo apuradas, mas o atestado de óbito aponta que a morte foi provocada por Rabdomiólise, hepatite fulminante, arritmia cardíaca e desidratação. A patologia atestada provoca a degradação do tecido muscular e danos aos rins. Exercícios intensos em excesso, insolação e queimaduras de terceiro grau podem desencadear a síndrome.
Nota de falecimento assinada pelo comandante do 9º Batalhão de Engenharia de Combate de Aquidauana, Elbio Leandro Braulio, confirma que o militar passou mal durante exercício físico e morreu no dia 16 de fevereiro.
“O aluno, após realizar uma seção de Treinamento Físico Militar, sentiu-se mal, foi imediatamente atendido pelo médico do Batalhão e encaminhado, em ato contínuo, ao Hospital Regional da cidade de Aquidauana-MS. Permaneceu durante o dia naquela unidade de saúde e veio à óbito na noite desta data”, diz a nota.
Um inquérito Policial Militar foi instaurado para esclarecer o fato. O CMO (Comando Militar do Oeste) foi procurado pela reportagem para se pronunciar sobre o ocorrido, mas até a publicação da matéria, não houve retorno.
– Fonte: CAMPO GRANDE NEWS