POR : O GLOBO
BUENOS AIRES — Dois brasileiros que trabalhavam em um hospital da província de Buenos Aires, na Argentina, foram denunciados por exercício ilegal da profissão. A dupla se passou por outros profissionais brasileiros durante meses, informou o hospital.
Outros quatro médicos, também brasileiros e funcionários do Hospital Dr. Angel Marzetti, foram afastados e são investigados pela Justiça após denúncia feita por uma vereadora de Cañuelas, a uma hora da capital argentina, onde fica a unidade de saúde. Além disso, o caso motivou a renúncia do chefe do setor de emergências, Hernán Carpio.
Durante nove meses, Felipe Nori Haggi Lacerda, de 27 anos, fingiu ser médico formado pela Universidade de Morón, onde está matriculado como estudante. Usando identidade, matrícula e diploma de outro médico, também brasileiro, Lacerda conseguiu que o hospital o contratasse em agosto do ano passado para cobrir plantões clínicos. Segundo o jornal “La Nación”, ele ganhava 114 mil pesos por mês.
Além de trabalhar no hospital, o estudante de Medicina oferecia serviços de modelo em um site, conforme apurou o jornal “El Ciudadano”. No entanto, após o escândalo vir à tona na Argentina, as imagens dele de sunga em uma casa com piscina foram apagadas, assim como sua página no Facebook e seu perfil no Instagram. No entanto, internautas salvaram as fotos, que agora circulam nas redes sociais, acompanhadas de sua verdadeira identidade.
Em abril deste ano, o falso médico, nascido em Batatais, no interior de São Paulo, iniciou os trâmites para se casar com seu namorado. No entanto, na certidão de casamento entregue ao hospital, o seu nome foi alterado para corresponder à identidade que usava. Quando solicitado que apresentasse os documentos originais, ele abandonou o hospital e nunca mais voltou.
O caso gerou consequências também para o marido de Felipe, Leandro Alberto Acevedo, que foi afastado de seu cargo na polícia argentina.
“Com relação ao caso do Primeiro Oficial da Polícia, casado com um dos acusados de falsificar sua identidade e utilizar uma falsa matrícula para exercer Medicina, informamos que o Escritório de Transparência e Controle Externo iniciou um processo administrativo e o afastamento do oficial em questão”, afirmou a polícia em nota, segundo o jornal “Clarín”.
O caso fez soar o alerta entre as autoridades do conselho de Cañuelas e os encarregados do hospital, que iniciaram uma investigação interna que incluiu o congelamento de salários de todo o quadro de funcionários até a apresentação da documentação em dia, bem como a inscrição no conselho de Medicina.
Foi assim que eles descobriram um segundo caso. Uma mulher chamada Thais Soares Costa atuou como médica no mesmo hospital, usando a identidade de outra brasileira.
Esses casos provocaram o encerramento dos contratos de outros quatro médicos brasileiros, que não tinham apresentado “a documentação correspondente”, informou o hospital em um comunicado.
Felipe e Thais respondem por uso de identidade falsa, fraude, falsificação de documento público, exercício ilegal da medicina e usurpação de títulos e honrarias, segundo a agência “AFP”. Eles foram denunciados à Justiça pela vereadora Elizabet Romero, que se valeu de uma informação obtida pelo sindicato de Trabalhadores Municipais.
“Para contratar um médico é feita uma entrevista pessoal com documentação. É impossível que a pessoa responsável pela contratação destes médicos não tenha comprovado que a fotocópia que ele apresentava não era de seu rosto”, disse Romero ao “Clarín”.
Diana Barcia, administradora do hospital, afirmou que outros municípios também podem ter sido enganados.
Em outro comunicado, o centro de saúde informou que “foi revisada toda a papelada pessoal de cada um dos profissionais” e verificou-se que estão atuando com matrículas e requerimentos em dia.
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