Risco de complicações na gravidez relacionadas à pressão alta foi maior após a implantação de embriões congelados em comparação com gestações concebidas naturalmente, segundo a pesquisa
Gestações de fertilização in vitro com embriões congelados parecem estar ligadas a um risco aumentado de complicações relacionadas à pressão alta ou distúrbios hipertensivos, em comparação com quando são usados embriões frescos ou quando uma gravidez é concebida naturalmente.
É o que sugere um estudo publicado na revista Hypertension da American Heart Association, que incluiu dados sobre mais de 4,5 milhões de gestações, abrangendo quase três décadas, em três países europeus: Dinamarca, Noruega e Suécia.
O risco de complicações na gravidez relacionadas à pressão alta foi maior após a implantação de embriões congelados em comparação com gestações concebidas naturalmente, e o risco após o uso de embriões frescos foi semelhante ao de gestações concebidas naturalmente, mostram os dados.
Mais pesquisas são necessárias para determinar se descobertas semelhantes surgiriam nos Estados Unidos ou no Brasil.
Os pesquisadores – da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia e outras instituições na Europa – analisaram registros médicos de nascimento da Dinamarca que foram datados entre 1994 e 2014, da Noruega datados de 1984 a 2015 e da Suécia datados de 1985 a 2015.
Os registros incluíram cerca de 4,4 milhões de gestações concebidas naturalmente, 78.300 gestações que usaram embriões frescos e 18.037 gestações por embriões congelados.
Os pesquisadores compararam as chances de distúrbios hipertensivos durante a gravidez entre os grupos e descobriram que o risco não ajustado de tais distúrbios foi de 7,4% após a transferência de embriões congelados, 5,9% após o uso de embriões frescos e 4,3% após a concepção natural.
Os dados também mostraram que as gestações por embriões congelados e frescos eram mais frequentemente prematuras – 6,6% das congeladas e 8,1% das frescas, respectivamente – em comparação com aquelas concebidas naturalmente, em 5%.
“As transferências de embriões congelados são agora cada vez mais comuns em todo o mundo e, nos últimos anos, alguns médicos começaram a pular a transferência de embriões frescos para congelar rotineiramente todos os embriões em sua prática clínica, a chamada abordagem ‘congelar tudo’”, disse o principal autor do estudo Sindre H. Petersen, pesquisador da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia em Trondheim, Noruega, em um comunicado à imprensa na segunda-feira.
“Em resumo, embora a maioria das gestações de fertilização in vitro sejam saudáveis e descomplicadas”, disse ele, “esta análise descobriu que o risco de pressão alta na gravidez foi substancialmente maior após a transferência de embriões congelados em comparação com gestações de transferência de embriões frescos ou concepção natural”.
Petersen acrescentou: “Nossos resultados destacam que é necessária uma consideração cuidadosa de todos os benefícios e riscos potenciais antes de congelar todos os embriões como rotina na prática clínica”.
As descobertas estão “de acordo com estudos anteriores em nível populacional”, mostrando um risco maior de distúrbios hipertensivos durante a gravidez após a transferência de embriões congelados, escreveram os pesquisadores em seu estudo.
No ano passado, um grande estudo da França apresentado na reunião anual online da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia também apontou um risco maior de pré-eclâmpsia e hipertensão em gestações derivadas de embriões congelados e descongelados – e o risco foi visto como maior quando o útero foi preparado para implantação com terapias de reposição hormonal.
“A associação entre ciclos embrionários congelados e doença hipertensiva na gravidez é conhecida há algum tempo, e ainda há um debate ativo sobre os prós e contras de ‘congelar tudo’ entre os médicos de fertilidade”, disse Ying Cheong, professora de medicina reprodutiva da Universidade de Southampton, em um comunicado distribuído pelo Science Media Center, com sede no Reino Unido, em julho. Ela não estava envolvida em nenhum dos estudos.
“Há dois pontos importantes a serem levados para casa aqui, primeiro, enquanto a tecnologia de transferência de embriões congelados transformou a medicina reprodutiva, a técnica só deve ser realizada onde for clinicamente apropriado e, segundo, clínicos e cientistas precisam começar a juntar os pontos entre o que acontece no desenvolvimento inicial e mais tarde no nascimento e além, uma área de pesquisa, na minha opinião, que ainda é pouco apoiada e estudada”, disse Ying.
O novo estudo não avaliou o que poderia estar impulsionando essa associação entre transferências de embriões congelados e riscos de pressão alta, mas alguns médicos de fertilização in vitro questionam se é realmente uma questão de fresco versus congelado.
“Há uma coisa que não está clara: é do próprio procedimento de congelamento do embrião ou é do protocolo usado?”, questionou a endocrinologista reprodutiva Aimee Eyvazzadeh, de San Francisco, que não esteve envolvida no novo estudo.
“Existem diferentes maneiras de preparar um útero para transferência”, disse ela. Um protocolo envolve um cisto de corpo lúteo, uma massa cheia de líquido que se forma nos ovários e desempenha um papel importante durante a gravidez, pois o corpo lúteo produz o hormônio progesterona necessário durante a gravidez. Outro protocolo depende de medicamentos para imitar a ovulação.
“Estudos mostram que é a falta de corpo lúteo que aumenta o risco e é potencialmente por isso que uma transferência congelada pode ter um risco maior de pré-eclâmpsia”, escreveu Aimee por e-mail.
No geral, o novo estudo é “muito importante” para “qualquer pessoa que cuide de grávidas após a fertilização in vitro”, escreveu ela. “Todo mundo que cuida de mulheres grávidas após a fertilização in vitro deve prestar muita atenção a este estudo. Mais e mais estudos estão mostrando o que os médicos de fertilização in vitro já sabem que a fertilização in vitro após a transferência de embriões congelados pode aumentar o risco de pré-eclâmpsia”.
Este texto foi originalmente publicado em CNN