Cuidar não só da mente, como do corpo, emoções e espírito, é fundamental
Após termos passado por dois anos tão cheios de imprevistos, com a pandemia, associada a inúmeras mortes, tornou essa questão ainda mais importante, principalmente para os profissionais de saúde. Como nos manter mentalmente equilibrados diante de uma segunda onda de Covid-19 prevista?
De acordo com o Dr. Frederico Porto, psiquiatra pela UFMG, nutrólogo pela ABRAN e professor convidado da Fundação Dom Cabral, é importante não só pensar na própria saúde mental, como também na emocional, física e espiritual. E isso se estende à relação com os pacientes. A seguir, veja com mais detalhes essa visão integral que ele propôs no nosso Happy One Hour, que você pode assistir na íntegra em nosso canal do YouTube:
Mente sã…
Para o especialista, quando pensamos em saúde mental, vem à cabeça o foco e a atenção. Nos dias atuais é muito comum termos nossa atenção dividida com algum dispositivo eletrônico (celular, computador, TV). Dr. Frederico explica que esse fenômeno reduz a qualidade da nossa existência do momento presente. “É como se córtex pré-frontal estivesse sempre operando na 10ª marcha, mas precisasse ficar arrancando com ela a cada pequena interrupção”, metaforiza. Com isso, terminamos o dia mais cansados, próximos à exaustão.
Ele sugere a prática da atenção e principalmente a normalização de um tempo para aquecermos antes de começar uma atividade. O especialista explica que os grandes escritores costumam ter a mesma rotina de escrever por três horas pela manhã: uma é dedicada a se aquecer, uma a escrever efetivamente e outra a revisar o trabalho. “Eu fico me perguntando quão melhor seria a qualidade de nossas tarefas se nós exercitássemos ou nos permitíssemos uns 40 minutos de aquecimento”, considera.
… corpo são
Quando pensamos em saúde física, existem três pilares fundamentais:
- Sono: dormir a quantidade de tempo necessária para acordar se sentindo descansado;
- Exercícios: o sedentarismo tem sido considerado o tabagismo do século 21. A OMS recomenda a prática semanal de 150 minutos de atividade física moderada;
- Alimentação: é importante ter um consumo equilibrado de nutrientes, que pode ser obtido ao ingerir pratos coloridos.
Emoções à vista
Nossa relação com as telas tem afetado muito nossas emoções assim como elas dividem nosso foco, também nos desconectam da nossa corporização. “Isso ocorre porque ao usar o celular, interagimos usando apenas a visão e não os cinco sentidos”, explica o Dr. Frederico.
Ele acredita que um ponto chave para lidarmos com as nossas emoções de forma mais saudável é conhecê-las melhor e sempre verificar quais são elas, quando elas passam por nós ao longo do dia. Ele costuma classificar as emoções quanto à sua intensidade (emoções de alta ou baixa energia – ou arousal em inglês) e quanto à sensação que elas causam (se são agradáveis ou desagradáveis). Sendo assim, podemos organizá-las em quatro grupos:
- Quando estamos em um estado muito feliz, animado e eufórico vivemos as emoções agradáveis de alta energia, que são importantes e prazerosas, mas em longo prazo causam cansaço;
- Quando não as gerenciamos podemos chegar às emoções desagradáveis de alta energia, que englobam ansiedade, raiva e o ressentimento;
- Por fim, ficar por muito tempo nesse estado pode sugar tanto a energia que nos leva a emoções desagradáveis de baixa energia, que são o esgotamento emocional, como o burnout;
- Para não cair nessa, é importante encontrar o equilíbrio vivenciando momentos de emoções agradáveis de baixa energia, que trazem relaxamento e recuperação e mantêm nossa resiliência.
Mas como fazer isso? A respiração consciente é uma ferramenta importante para gerenciamento e modulação do que sentimos. A cada uma hora do nosso dia devemos tirar dois minutinhos para focar na forma como respiramos, inspirando e expirando devagar, e assim entrando em um estágio de mais baixa energia emocional.
Espiritualidade além da religião
Mesmo ateus podem cuidar melhor dela, afinal a espiritualidade está muito mais conectada a ter um propósito de vida além de nós mesmos do que com uma religião. “Não buscamos uma vida sem tensões, mas sim uma vida com uma tensão significativa”, resume Dr. Frederico.
Ele cita como exemplo o livro do psiquiatra Viktor Frankl, “Em busca de sentido” (Editora Vozes), que conta sua experiência em campos de concentração. “Ele mostra como o ser humano busca um sentido para sua vida e sofrimento: sabendo o porquê você suporta o como”, considera Porto.
Outro ponto importante é como ser otimista só ajuda a pessoa se a sensação tiver uma base realidade – o chamado otimismo realista. É o caso do comandante James Stockdale, que foi prisioneiro por mais de sete anos durante a Guerra do Vietnã.
Ele dizia em entrevista que as pessoas que possuíam o chamado “otimismo ingênuo” eram as primeiras a morrer na prisão, já que os prazos esperados nunca se cumpriam. Ele preferia ter uma perspectiva em que ainda esperava sair de lá, mas considerava a realidade do conflito à sua volta e admitia que isso poderia demorar bastante.
Fonte: Educa CETRUS