Relatórios das Nações Unidas apontam que, nos últimos 20 anos, médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde passaram a lançar mão, cada vez mais, de intervenções desnecessárias no momento do parto.
Além disso, práticas consideradas invasivas e desrespeitosas, que indicam violência obstétrica, também se tornaram mais frequentes.
De acordo com a enfermeira obstetra Simone Silva, essas atitudes podem deixar sequelas psicológicas e físicas na mulher.
“As histórias de partos difíceis geralmente estão relacionadas à violência obstétrica. O que mais dói é como a mulher é tratada, ela não pode beber água nem se levantar quando tem vontade”, explica.
Segundo a especialista, a ocitocina sintética aplicada no início do trabalho de parto pode levar a outras complicações, como uma hemorragia pós-parto.
As mães ainda podem ter dificuldades para amamentar por conta de lesões relacionadas.
“O bebê também corre o risco de ter sequelas e ficar internado por conta da má assistência”, destaca Simone.
Para buscar um atendimento menos intervencionista, mais acolhedor e respeitoso, um conjunto de práticas adotadas em diversos hospitais e locais especializados deu origem a um novo modelo de atendimento: o parto humanizado.
Simone Silva comenta que esse formato tem como pilares a assistência respeitosa, que leva em consideração a autonomia da mulher, e atualizada, baseada em evidências científicas. “Ele inclui, principalmente, o afeto à mãe e à criança”, acrescenta.
O parto humanizado é feito com a menor quantidade possível de intervenções. Quando são feitas, são sempre baseadas em evidências e argumentos científicos comprovados.
A intenção é evitar práticas como a episiotomia, um procedimento no qual se faz um corte na vagina da mulher para ajudar o bebê a sair.
“É uma ação ultrapassada, atualmente há pesquisas que comprovam não haver necessidade desse corte”, afirma Simone.
O modelo de parto humanizado também busca seguir orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), como o corte tardio do cordão umbilical.
“Diversos estudos mostraram os benefícios de fazer essa separação só depois que o cordão para de pulsar ou aguardar pelo menos três minutos após o nascimento do bebê, mas, ainda assim, vários profissionais vão contra essas orientações”, alerta a enfermeira obstetra.
Cesariana
Apesar de haver grupos que defendem o contrário, o modelo humanizado não necessariamente será um parto normal.
“Parto humanizado também é respeitar os níveis de segurança. Se a mulher está em uma condição na qual precisa de cirurgia, ela deve fazê-la. A cesariana, quando bem indicada, também é humanização”, ressalta Simone.
Respeito que se ensina
O Ministério da Saúde é responsável pelo projeto Apice On – Aprimoramento e Inovação no Cuidado e Ensino em Obstetrícia e Neonatologia.
A iniciativa nasceu da luta para que o conceito de humanização seja inserido e ensinado já no período de formação acadêmica de médicos, enfermeiros e outros profissionais.
O projeto tem uma equipe que visita instituições educacionais e hospitais universitários de todo o Brasil, para que os estudantes tenham contato com essas informações desde cedo.
O Apice On conta com a parceria do Ministério da Educação (MEC), da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), entre outras instituições.
Com informações do Ministério da Saúde, das Nações Unidas e da Organização Panamericana de Saúde