Luciana Dalmagro, de 34 anos, tranformou a granja da família em um negócio próspero que neste ano deve produzir 3 milhões de aves.
Aos 7 anos de idade, a produtora rural Luciana Dalmagro, de 34 anos, já convivia de perto com as aves. Ela ia passar todos os finais de semana na fazenda de sua família, em Batatais, no interior de São Paulo, criada há quatro gerações por seus bisavós. Na época, a família plantava café e cana-de-açúcar. Algumas galinhas corriam soltas pela propriedade. “Ficava encantada com as aves”, diz Luciana. “Pensava em como o ovo era formado e achava fascinante acompanhar o crescimento dos frangos.”
Hoje, 27 anos depois, Luciana tem motivos de sobra para comemorar. Ela transformou a granja da família em um negócio próspero que fatura milhões de reais por ano e atende mercados gourmets da Europa. Luciana deve produzir neste ano 3 milhões de frangos, um crescimento de mais de 10% em relação a 2019, o que a coloca como uma das maiores produtoras de aves do país.
Com o agronegócio vivendo seu melhor momento na história, com uma expectativa de faturamento de 728,6 bilhões de reais neste ano, 2,5% mais do que em 2019, e exportações recorde, o negócio de Luciana tem tudo para crescer. “Estou investindo cada vez mais em tecnologia e sustentabilidade, que é uma demanda crescente do mercado e também algo em que pessoalmente acredito”, diz. Luciana instalou dezenas de painéis solares pela fazenda e instituiu o reúso da água.
Luciana também investiu em sistemas de rastreabilidade e bem-estar animal. Dispositivos eletrônicos e sensores medem desde a qualidade do ar na granja até a temperatura e o consumo de água e ração pelos frangos. Equipamentos simulam o nascer do sol e a alvorada para proporcionar um ambiente mais acolhedor aos frangos.
É proibido entrar com celular dentro da granja ou fazer barulho. “Tudo isso é importante para que os frangos cresçam bem e não passem por situações desgastantes”, diz Luciana.
Mas nem sempre foi assim. Boa parte dessa estratégia ganhou força quando Luciana assumiu a gestão do negócio, há cinco anos. Foram anos de preparo para esse momento. Luciana foi a primeira da família a ter um diploma de MBA — ela cursou gestão empresarial na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), em São Paulo. Antes disso, concluiu um mestrado em ciência pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Para a graduação, optou por farmácia, que fez na PUC de Campinas.
Os frangos tiveram um papel decisivo em tudo isso. “É importante entender a atuação de remédios, rações e outros produtos dados às aves para cuidar bem delas”, diz Luciana.
A inspiração para o empenho nos estudos veio de dentro de casa. Sua mãe, a bióloga Eliana Portugal, hoje aposentada, foi pesquisadora do Instituto Adolf Lutz, umas das maiores referências em pesquisa no país, em Ribeirão Preto. “Ela era muito dedicada e extremamente estudiosa.”
Em 2010, depois de completar sua formação acadêmica, Luciana finalmente voltou para o interior — e para a fazenda, onde trabalha de segunda a sexta-feira. “Foi bom ter ficado longe porque assim me encontrei e percebi que a produção rural era o que eu gostava mesmo”, diz. “Ao mesmo tempo, minha formação foi fundamental para o trabalho na granja.”
A avicultura também proporcionou para Luciana surpresas e encontros agradáveis. Em 2014, ela conheceu o marido, veterinário de uma grande indústria do setor, durante um congresso nos Estados Unidos sobre a criação de frangos. “Tenho um casamento feliz”, afirma.
Hoje, ela, o marido e o filho de 4 anos moram em uma casa com um quintal de mais de 1.000 metros quadrados em Batatais, perto da fazenda. Eles plantam tudo o que consomem, de hortaliças a frutas e legumes. “Meu filho, Antônio, já cuida da horta e convive com os animais na fazenda”, diz. “Daqui a pouco, vai conhecer os frangos tão bem quanto eu.”
fonte: exame