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Doenças não transmissíveis se tornam principal causa de morte no mundo, diz OMS

Moléstias crônicas ultrapassaram as infecciosas e causam quase três quartos das mortes globais, com 41 milhões de vítimas a cada ano; veja os indicadores brasileiros

Doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, problemas respiratórios crônicos e de saúde mental se tornaram a principal causa de morte no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que estas e outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) ultrapassaram as doenças infecciosas e causam quase três quartos das mortes globais, com 41 milhões de vítimas a cada ano.

No dia 21/9, a OMS divulga estatísticas inéditas e lança um portal de dados sobre o problema de saúde pública e fatores de risco associados. O relatório revela a escala atual da ameaça das doenças e também apresenta possibilidades de intervenções econômicas que, se aplicadas pelos países, podem mudar o panorama, salvar vidas e poupar gastos com saúde.

A OMS argumenta que combater os principais fatores de risco que levam a essas doenças pode prevenir ou adiar problemas de saúde significativos e um grande número de mortes por essas doenças.

Recorte brasileiro

O novo portal reúne os dados mais recentes específicos de cada país, fatores de risco e implementação de políticas para 194 países.

O documento permite explorar os dados para as quatro DCNTs (doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e doenças respiratórias crônicas) e seus principais impulsionadores e fatores de risco (como tabagismo, alimentação não saudável, uso nocivo de álcool e falta de atividade física). O portal torna visíveis os padrões e tendências nos países e permite a comparação entre países ou dentro de regiões geográficas.

No Brasil, as DCNTs são responsáveis por cerca de 75% das mortes, de acordo com as estimativas da OMS. As estatísticas apontam que a distribuição das causas de óbito se dividem no país entre: doenças cardiovasculares (28%), câncer (18%), condições transmissíveis, maternas, perinatais e nutricionais (14%), doenças respiratórias crônicas (7%), diabetes (5%) e outras DCNTs (17%).

O documento também apresenta a distribuição de fatores de risco ao desenvolvimento de doenças crônicas em cada país, como consumo de álcool, tabagismo, obesidade e sedentarismo.

Os dados revelam que o Brasil tem uma incidência de 13% de uso de tabaco entre a população com mais de 15 anos. De acordo com a OMS, a padronização da idade permite a comparação entre os países, e o uso de tabaco inclui mascar tabaco e diferentes formas de fumar tabaco.

No Brasil, a estimativa da prevalência do tabagismo em adolescentes e adultos com 15 anos ou mais também é de 13%.

consumo total de álcool por pessoa é de 7,3 litros ao ano.

consumo médio de sal entre a população acima de 25 anos é de 9 gramas ao dia. A quantidade excede o limite recomendado pela OMS, de 5 gramas diárias.

Em relação à falta de atividade física, as estatísticas indicam que 47% dos adultos com mais de 18 anos permanecem sedentários ou até realizam algum tipo de exercício, mas em uma quantidade abaixo da recomendada. Entre os adolescentes de 11 a 17 anos, o índice chega a 84%. A OMS recomenda de 150 a 300 minutos, no mínimo, de atividade aeróbica por semana para adultos saudáveis e uma média de 60 minutos por dia para crianças e adolescentes.

Já a hipertensão afeta 45% dos adultos entre 30 e 79 anos no país. A pressão alta é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e renais, além de ser frequentemente associada a outros problemas crônicos e a eventos como morte súbita, acidente vascular encefálico, infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca e doença arterial periférica.

De acordo com o relatório da OMS, 22% dos brasileiros com mais de 18 anos estão obesos, enquanto entre os adolescentes de 10 a 19 anos o índice de obesidade é de 9%.

Problema de saúde pública

As DCNTs são um problema em todos os lugares, embora os padrões das doenças variem entre países e regiões. De acordo com a OMS, mais de três quartos de todas as mortes por por essas doenças ocorrem em países de baixa e média renda, o que as torna uma questão de equidade e desenvolvimento.

Os fatores de desenvolvimento dessas doenças são sociais, ambientais, comerciais e genéticos. Segundo estimativas da OMS, todos os anos, 17 milhões de pessoas com menos de 70 anos morrem de DCNTs, sendo que 86% delas vivem em países de baixa e média renda. Além disso, o problema de saúde pública representa perdas significativas para as economias dos países, com estimativas de custo de até US$ 30 trilhões nos anos de 2011 a 2030.

O relatório da OMS aponta que o consumo de alimentos não saudáveis, o uso de tabaco e o uso nocivo de álcool são fortemente influenciados pela indústria, incluindo a formulação, design de embalagens, marketing e promoções de produtos. A OMS afirma que ações dos governos são vitais para garantir que as empresas desempenhem um papel na redução em vez de aumentar a desigualdade na saúde.

O diretor-geral da OMS Tedros Adhanom afirma que a pandemia de Covid-19 afetou especialmente as pessoas que vivem com as doenças.

“A pandemia demonstrou que proteger e promover a saúde não é apenas domínio dos ministros da Saúde. Da mesma forma que a Covid-19, as DCNTs põem em risco vidas, meios de subsistência e desenvolvimento global, o que significa que prevenir e gerenciar essas doenças requer um esforço conjunto, com uma resposta de todo o governo e de toda a sociedade em todos os países e setores. Este relatório é um lembrete da verdadeira escala da ameaça representada pelas DCNTs e seus fatores de risco. Mas, crucialmente, também mostra o que pode ser feito para evitá-las”, diz Adhanom.

A OMS alerta que intervenções econômicas e podem ser aplicadas ​globalmente com o objetivo de prevenir ou reduzir os impactos das doenças. “Se todos os países adotassem as intervenções que funcionam, pelo menos 39 milhões de mortes por DCNTs poderiam ser evitadas até 2030, e inúmeras outras vidas seriam mais longas, mais saudáveis e mais felizes”, diz o relatório.

Entre as ações exigidas para mudanças efetivas no cenário das doenças crônicas não transmissíveis, a OMS cita vontade dos gestores, políticas públicas e intervenções, fortalecimento na prestação de cuidados de saúde e proteção de populações mais vulneráveis.

Confira alguns indicadores destacados no relatório da OMS:

Doenças cardiovasculares

  • 1 em cada 3 mortes – 17,9 milhões de pessoas por ano
  • 86% das mortes pelas doenças poderiam ter sido evitadas ou retardadas por meio de prevenção e tratamento
  • Dois terços das pessoas com hipertensão vivem em países de baixa e média renda
  • Quase metade das pessoas com hipertensão não sabem que têm a doença
  • Hipertensão afeta atualmente cerca de 1,3 bilhão de adultos de 30 a 79 anos

Câncer

  • 1 em cada 6 mortes – 9,3 milhões de pessoas por ano
  • 44% das mortes por câncer poderiam ter sido evitadas ou adiadas com a eliminação dos riscos à saúde

Doença de obstrução pulmonar crônica

  • 1 em cada 13 mortes – 4,1 milhões de pessoas por ano
  • 70% das mortes por doenças respiratórias crônicas poderiam ter sido prevenidas ou adiadas pela eliminação de riscos à saúde

Diabetes

  • 1 em 28 mortes – 2 milhões de pessoas por ano
  • Mais de 95% dos casos de diabetes em todo o mundo são de diabetes tipo 2

Tabaco

  • 8 milhões de mortes
  • Mais de um milhão de fumantes passivos

Alimentação

A OMS afirma que o consumo de alimentos não saudáveis, o uso de tabaco e o uso nocivo de álcool são fortemente influenciados por determinantes comerciais da saúde, incluindo a formulação, design de embalagens, marketing e promoções de produtos. Embora possam afetar a todos, jovens correm um risco particular segundo a OMS.

“As indústrias de tabaco e álcool visam ativamente populações vulneráveis, como crianças e jovens, para consumir seus produtos. A ação do governo é vital para garantir que as empresas desempenhem um papel na redução em vez de aumentar a desigualdade na saúde e que qualquer influência negativa do setor privado na saúde seja minimizada”, diz o relatório.

Dieta não saudável

  • 8 milhões de mortes por DCNT por ano
  • Todos os riscos alimentares combinados representam 19% das mortes por DCNT

Álcool

  • 1,7 milhão de mortes por DCNT em 2016
  • 4% das mortes por DCNT

Inatividade física

  • 830 mil mortes por DCNT por ano
  • 2% das mortes por DCNT

Obesidade

  • Sobrepeso, ou obesidade, é um importante fator de risco para DCNTs, como doenças cardiovasculares, diabetes, doenças musculoesqueléticas e alguns tipos de câncer
  • Obesidade em todo o mundo quase triplicou desde 1975

Poluição do ar

  • Em 2019, estimava-se que 99% da população global vivia em locais onde as Diretrizes de qualidade do ar da OMS – não foram atendidos

 

 

 

– Este texto foi publicado originalmente em CNN

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