A Organização Pan-Americana de Saúde (Paho) confirmou que os casos de “pneumonia misteriosa” diagnosticados na Argentina têm a ver com bactérias conhecidas como Legionella.
Até o momento, a doença foi detectada em 11 pacientes que moram na província de Tucumán, localizada no norte do país. Quatro mortes foram registradas neste grupo.
Todos os indivíduos desenvolveram sintomas entre os dias 18 e 25 de agosto, quando estiveram numa clínica privada localizada na cidade de San Miguel de Tucumán.
As bactérias do gênero Legionella, especialmente a L. pneumophila, é conhecida por causar surtos de pneumonia grave. O quadro é chamado de doença dos legionários ou legionelose.
Saiba a seguir o que se sabe sobre o problema e o que as autoridades em saúde estão fazendo para conter o problema.
A doença dos legionários
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos conta que a Legionella foi descoberta em 1976.
À época, ela causou um surto durante uma convenção da Legião Americana (que reúne veteranos de guerra) realizada na cidade da Filadélfia — o nome Legionella, aliás, faz alusão ao grupo.
Um pouco antes, em 1968, aconteceu também nos EUA a “Febre de Pontiac”.
À época, pessoas que visitaram o Departamento de Saúde da cidade de Pontiac, em Michigan, desenvolveram sintomas de uma infecção respiratória. Anos depois, se descobriu que o episódio também estava relacionado com micro-organismos desse mesmo grupo.
O Sistema Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido informa que a principal forma de transmissão da Legionella acontece pela aspiração de pequenas gotículas de água que trazem esse micro-organismo.
“Isso geralmente acontece em lugares como hotéis, hospitais e escritórios onde a bactéria se infiltrou na tubulação de água”, explica o texto.
Ainda segundo o NHS, é possível se infectar com a Legionella por meio de sistemas de ar condicionado, umidificadores de ar, piscinas e banheiras de uso compartilhado, além de torneiras e chuveiros que não são usados frequentemente.
A transmissão direta, de pessoa a pessoa, ao beber água, ou através do contato com lagoas, lagos e rios é considerada menos frequente.
Sintomas e tratamentos
Entre os sinais mais comuns dessa infecção, é possível destacar incômodos como tosse, dificuldade para respirar, dor no peito, febre e outras manifestações típicas de gripe ou resfriado.
Dos 11 casos detectados em Tucumán, sete eram homens, com uma média de idade de 45 anos.
“Febre, dor muscular, diarreia, dificuldade para respirar e dor de cabeça foram os sintomas mais frequentes”, lista o informativo da Paho.
Dez pacientes possuíam comorbidades, como hipertensão, tabagismo e diabetes.
Após o diagnóstico, o tratamento costuma ser feito no hospital e envolve o uso de antibióticos, classe de medicamentos que mata os micro-organismos por trás da infecção.
Em alguns casos, o paciente também pode necessitar de oxigênio suplementar e respiradores enquanto os pulmões se recuperam.
O CDC aponta que o número de casos da doença dos legionários está em alta desde o início dos anos 2000.
“Os departamentos de saúde notificaram quase 10 mil casos nos Estados Unidos apenas em 2018”, calcula a entidade.
“No entanto, como trata-se de uma enfermidade subdiagnosticada, esse número deve ser mais alto. Um estudo recente estima que a verdadeira incidência deve ser 1,8 a 2,7 vezes maior”, complementa o texto.
Não existem estatísticas recentes sobre pneumonias relacionadas à Legionella no Brasil.
Próximos passos
A nota divulgada pela Paho indica que, até agora, “todos os casos do surto estavam ligados a um mesmo lugar, e não surgiram novos pacientes após o dia 25 de agosto”.
“O surto esteve limitado a oito profissionais de saúde e três pacientes”, detalha o texto.
O Ministério da Saúde da Argentina e as autoridades locais disseram que vão implementar algumas medidas, incluindo uma investigação para determinar a origem do problema.
Além disso, eles se comprometeram a acompanhar os pacientes e aqueles indivíduos que podem ter sido expostos à bactéria, com o objetivo de detectar novos casos com rapidez.
– Este texto foi publicado originalmente em BBC News