A diabetes tipo 2 (DM2), classicamente uma doença de adultos, vem se tornando uma condição cada vez mais prevalente em crianças e adolescentes. Classicamente, nosso raciocínio em jovens com alterações do metabolismo glicêmico logo nos leva a pensar no diagnóstico de DM1 e de causas genéticas, porém a diabetes tipo 2 deve fazer parte desse diferencial. Nos EUA, entre 2002 e 2015, houve um aumento anual de aproximadamente 4,8% na incidência de DM2 nessa população.
Considerando a importância desse tema cada vez mais relevante, foi publicada uma revisão acerca na revista Childhood Obesity and Nutrition.
O problema
A diabetes tipo 2 é uma doença que está intimamente relacionada à obesidade e aos hábitos alimentares não saudáveis que preponderam atualmente. Nos EUA, em 2016, a prevalência de obesidade entre crianças e adolescentes já atingia mais de 18% dessa população. Sabemos, infelizmente, que essa situação não acontece apenas nos EUA. Dados brasileiros de 2019 apontam para obesidade infantil na faixa entre os cinco e nove anos atingindo cerca de 13,2%, enquanto 28,1% estavam com excesso de peso para idade, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
A diabetes tipo 2 em crianças é uma entidade pouco estudada. É sabido que a chance de complicações microvasculares parece ser maior do que em pacientes com DM1. Porém, existe pouca informação sobre qual seu melhor manejo. Considerando o fato, os autores elaboraram uma revisão narrativa para discutir pontos importantes para essa condição.
Epidemiologia da diabetes tipo 2
De acordo com dados de uma coorte norte americana (SEARCH), a incidência de DM2 em 2015 foi de 13,8 casos/100.000, considerando jovens entre 10 e 19 anos (a incidência em menores de 10 anos é muito pequena e não foi estimada).
Complicações
Apesar de limitações nos estudos que avaliaram as complicações relacionadas ao DM, a maioria indica que o DM2 nessa faixa etária tende a apresentar complicações de forma mais rápida, aparentando maior agressividade que o DM1. 72% tendem a apresentar pelo menos uma complicação microvascular quando adultos jovens comparado a 32% das crianças diagnosticadas com DM1.
Neuropatia: na coorte SEARCH, 22% das crianças e adolescentes jovens apresentavam neuropatia periférica; 19,9% apresentavam algum tipo de acometimento renal; Há também tendência de progressão mais rápida na albuminúria no DM2 nessa faixa etária quando comparado ao DM1
Retinopatia: Em outro estudo piloto baseado na coorte SEARCH, a prevalência de retinopatia no DM2 foi de 42% comparado a 17% no DM1, com maior tendência a apresentar retinopatia proliferativa no DM2.
Do ponto de vista de risco cardiovascular, cerca de 31,7% das crianças entre 10 e 19 anos com DM2 fecham critérios para síndrome metabólica. Chama ainda atenção que cerca de 17% apresentaram disfunção autonômica do sistema cardiovascular (NAC), que está relacionado a um aumento de até 5x na mortalidade. Em adultos, a NAC acomete cerca de 20% dos pacientes.
Por fim, apesar de jovens, até mesmo mortalidade na coorte SEARCH é maior se comparada aos dados da população da mesma idade nos EUA, entre 2002 e 2008. Entre os jovens com DM2, a mortalidade foi de 185,6 / 100.000 pessoas-ano, enquanto a mortalidade geral foi de 70,9 / 100.000 pessoas-ano. Não foi observado aumento da mortalidade no mesmo período em crianças e jovens com DM1.
Conclusões
Em nosso meio, a obesidade infantil vem aumentando e com isso, o risco de diabetes tipo 2 também. As complicações microvasculares parecem evoluir de forma mais agressiva na diabetes tipo 2. É necessário maior atenção com esta condição, uma vez que se trata de uma doença crônica que acompanhará o indivíduo pelo resto da vida, com grande morbimortalidade.
Fonte: Portal PEBMED