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Diabetes mata mais de 4,7 mil em Mato Grosso do Sul

Dados do Ministério da Saúde apontam que, em seis anos, óbitos no Estado aumentaram 36,7%. Números podem ser bem maiores se consideradas as complicações

A médica endocrinologista e metabologista Luciana Secchi (foto - Hedio Fazan)

O último levantamento do Ministério da Saúde mostra que o diabetes já matou no Mato Grosso do Sul 4.786 pessoas entre 2010 e 2016, quando se considera a causa imediata da morte. De acordo com o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), o número cresceu 36,7% no período, saindo de 591 mortes para 806 no ano de 2016. Estima-se que esses números sejam bem maiores quando se consideram as mortes associadas ao diabetes e suas complicações, incluindo-se as doenças cardiovasculares.

No Dia Mundial do Diabetes, dados da Sociedade Brasileira de Diabetes mostram que somente no Brasil existem mais de 16 milhões de pessoas com a doença, mas cerca da metade delas não sabe que tem esse diagnóstico. O número de pacientes vem crescendo mundialmente e estima-se que até 2030 deva aumentar para mais de 550 milhões de pessoas.

Em Mato Grosso do Sul, além do aumento no número de mortes, a quantidade de internações também cresceu em decorrência do diabetes. Foram 3.935 em 2010 e 3.991, em 2016 conforme registrado no Sistema de Informações Hospitalares (SIH). O diabetes mal controlado é responsável por graves complicações, como a doença cardiovascular, a insuficiência renal crônica levando à necessidade de hemodiálise e as cirurgias para amputações dos membros inferiores. Em torno de 30% dos pacientes que fazem hemodiálise no Brasil têm insuficiência crônica dos rins causada pelo diabetes. Outra grave complicação da doença é a perda visual. A falta de controle adequado da glicemia (nível de açúcar no sangue) pode leva a danos nos nervos – que podem levar à diminuição da sensação de dor e agravar lesões existentes nos pés.

A pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) mostrou que Campo Grande é uma das capitais com taxa de mais elevada de pessoas com a enfermidade, com 7,7% dos habitantes diagnosticados. O percentual de homens que apresentaram diagnóstico médico de diabetes mais que dobrou (115,7%), entre os anos de 2006 e 2017. Os dados mostram ainda que há 11 anos o número de homens que tinham sido diagnosticados com a doença era de 3,8%, e agora o índice passou para 8,2%. O percentual de mulheres com diagnóstico de diabetes também cresceu: foram 62,2% a mais no mesmo período. Na comparação com as demais capitais, os homens de Campo Grande apresentaram a 4ª maior taxa de diagnóstico médico de diabetes em 2017, ficando atrás apenas de Boa Vista (8,1%), Belo Horizonte (8,2%) e Porto Alegre (8%). Já entre as mulheres, a capital sul-mato-grossense foi a 13º com o menor percentual da doença.

Em Dourados a médica endocrinologista e metabologista Luciana Secchi, membro da diretoria da Regional Mato Grosso do Sul da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e representante do Centro Oeste na comissão científica da próxima gestão nacional dessa Sociedade médica, esclarece que a doença tem grande potencial de complicações caso mal tratada e mal controlada, porém se bem controlada desde o início permite vida normal, de qualidade e expectativa de vida plena.

A médica explica que, por ser a doença geralmente silenciosa, o diagnóstico precoce é muito importante para se evitar que ela evolua por muito tempo sem tratamento e resulte em complicações.

O limite de glicemia de jejum normal é de 99 mg/dl. “É muito importante que a população saiba que na eventualidade de receber um resultado de exame com glicemia acima do limite deve-se procurar um médico e discutir com ele o significado desse resultado e a necessidade ou não de tratamento ou mudanças de estilo de vida naquele momento”, destacou. Segundo Luciana, o tratamento do diabetes envolve mudanças de estilo de vida, adequações na dieta e abolição do sedentarismo. Além disso o papel dos medicamentos é muito importante e deve ser bem indicado. A insulina faz parte do tratamento de um grande número de diabéticos tipo 2, em geral junto com os medicamentos orais, e de todos os pacientes com diabetes tipo 1.

Em relação à prevenção, a endocrinologista explica que o diabetes tipo 2 e o diabetes gestacional são preveníveis através de manutenção do peso saudável, atividades físicas regulares, dieta adequada e controle do stress. O diabetes tipo 1 até o momento não é uma doença que se possa prevenir.

Luciana alerta para a importância de toda a família cooperar para o tratamento do paciente. O assunto é tão importante que é o tema da Federação Internacional de Diabetes (IDF) deste ano. Segundo a endocrinologista a família tem papel importante no cuidar , entender as necessidades e apoiar a pessoa com diabetes. Em todo o Brasil estão previstas no mês de novembro, em especial no dia 14, que é o Dia Mundial do Diabetes estabelecido pela ONU, atividades organizadas pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia para alertar sobre a doença.

AmigO Tipo 1

Criado em 2014, o grupo AmigO Tipo 1, em Dourados tem participado nos últimos anos da campanha da Federação Internacional de Diabetes (IDF), tendo sido incluído no calendário oficial dessa importante organização. Formado por pacientes com diabetes tipo 1, é um grupo privado, sem fins lucrativos, coordenado pelas médicas Luciana Secchi e Letícia dos Reis Silva. Fazem parte do projeto cerca de 50 pacientes com diabetes mellitus tipo 1 e seus familiares, totalizando mais de 100 pessoas.

Os pacientes têm idades entre 1 e 70 anos e são atendidos pelas duas profissionais. Segundo a médica Luciana, o grupo surgiu com uma proposta nova de tratamento, tentando melhorar o que já era oferecido no consultório.

“Realizamos educação em diabetes para que o paciente possa lidar melhor com a sua doença e tomar as decisões mais adequadas para conseguir o bom controle, tão difícil e trabalhoso nessa doença”, explica, observando que no decorrer do trabalho se conseguiu um resultado melhor no controle da doença em relação àqueles que faziam apenas o tratamento convencional.

“Hoje, sabe-se que os pacientes bem controlados com diabetes tipo 1 no mundo são em torno de 10% a 15%. No nosso grupo chegamos a ter cerca 50% dos pacientes com bom controle e sem mudar o tratamento medicamentoso que já usavam – nós nos colocamos ao lado deles, fornecemos informação de qualidade, promovemos o convívio e a troca de experiências e damos suporte à parte educacional, psicológica e emocional, e obtivemos com isso resultados muito superiores ao tratamento convencional”, explica.

Iniciativas como essa podem mudar os resultados no tratamento de certas doenças crônicas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares, ainda mais quando se considera que nosso país e o mundo atravessam um momento de escassos recursos técnicos e financeiros que exige que se criem e apliquem soluções efetivas e de baixo custo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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