Após 37 anos no poder, Roberto Mugabe foi afastado pelos militares
O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, foi afastado do comando do país pelos militares após quase quatro décadas no poder. Mas, mesmo enfraquecido, se recusa a renunciar ao cargo.
A seguir, conheça dez números que ajudam a entender como essa nação chegou ao ponto em que está hoje.
BBC Brasil –
Mugabe, de 93 anos, liderou o país no seu processo de independência e está no poder desde que isso ocorreu, em 1980 — ele foi o primeiro-ministro até o sistema presidencialista ser adotado, em 1987.
Mas seus últimos anos de governo foram marcados por uma grave crise econômica e o aumento da dissidência. Ele e seus apoiadores conseguiram permanecer no poder por tanto tempo usando a violência, incluindo acusações de assassinatos, como estratégia eleitoral.
A economia do país passa por dificuldades desde a reforma agrária realizada em 2000. Esse programa redistribuiu as terras de proprietários brancos para negros sem-terra — e outros com boas conexões políticas —, o que levou a uma queda acentuada na produção e o afastamento de investidores.
Conforme o Banco Central imprimia dinheiro para tentar resolver a crise, uma inflação galopante se instalou.
Embora o Banco Mundial não tenha os números de 2008 e 2009, os dados do Banco Central do país apontam um índice anual de de 231 milhões % em julho de 2008. Autoridades desistiram de divulgar boletins mensais quando ela chegou a 80 bilhões % em meados de novembro de 2008.
O país teve de abandonar sua própria moeda um ano depois, a uma taxa de câmbio de 35 quadrilhões de dólares zimbabuanos para cada US$ 1.
A crise política e econômica entre 2000 e 2008 fez cair quase pela metade o Produto Interno Bruto (PIB), a maior contração de uma economia no mundo em tempos de paz, segundo o Banco Mundial.
Houve um breve período de recuperação entre 2009 e 2012, mas agora a economia enfrenta sérios desafios, diz o Banco Mundial. O crescimento desacelerou drasticamente após alcançar uma média de 8% entre 2009 e 2012, diante de mudanças no comércio e uma série de secas.
Mugabe sempre disse que os problemas econômicos do país eram parte de um plano dos países ocidentais, liderados pelo Reino Unido, para tirá-lo do poder por causa da reforma agrária.
As crises política e econômica geraram um alto índice de pobreza.
Nos duros anos entre 2000 e 2008, as taxas aumentaram mais de 72%, segundo o Banco Mundial, o que deixou um quinto da população em uma situação de pobreza extrema — algo que se atenuou entre 20098 e 2014, mas estima-se que tenha voltado a se intensificar.
Cerca de 27% das crianças com menos de 5 anos têm problemas de crescimento, com 9% em estado grave por causa de desnutrição, segundo a Pesquisa Demográfica e de Saúde do Zimbábue de 2015.
Mas a pobreza no país ainda é menor do que a do restante da África Subsaariana, onde 41% da população vivia com menos de US$ 1,90 por dia em 2013, como mostram dados do Banco Mundial.
As estimativas de desemprego variam bastante. O Banco Mundial tem índices baseados em dados da Organização Mundial do Trabalho, que chegam a 5% em 2016, enquanto a principal organização sindical do país fala em 90% neste ano.
A definição de desemprego do Banco Mundial inclui apenas aqueles que estão em busca de emprego. Muitos dentre os desconsiderados podem não estar atrás de um trabalho porque “consideram as oportunidades limitadas, ou têm problemas de mobilidade ou são alvo de discriminação estrutural, social ou cultural”.
A CIA, a agência de inteligência dos EUA, estima que a taxa foi de 95% em 2009, mas afirma desconhecer o índice atual.
Por causa de grandes investimentos em educação desde a independência, o Zimbábue tem uma das maiores taxas de alfabetização da África, com 89% dos adultos capazes de ler e escrever, de acordo com dados de 2014 do Banco Mundial.
Globalmente, a taxa foi de 86% em 2016, enquanto na África Subsaariana era de 64% em 2015.
Quase todas as mulheres e homens com 15-49 anos tiveram algum tipo de educação básica, segundo dados oficiais. Mais de 70% chegaram ao nível correspondente ao ensino médio.
O Zimbábue tem a sexta maior prevalência de HIV na África Subsaariana, com 1,3 milhão de pessoas vivendo com o vírus em 2016, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). No entanto, depois do auge em 1997, a taxa está em queda.
Segundo a ONU, isso é resultado de campanhas bem-sucedidas que incentivam o uso da camisinha, assim como programas de prevenção da transmissão entre uma mãe e seus filhos. Serviços de tratamento e apoio também melhoraram.
A expectativa de vida caiu nos anos 1990, com a epidemia de HIV/Aids — foi de 61,6 anos em 1986 para 43,1 anos em 2003.
Agora, vem aumentando lentamente, mas, com o desemprego e a pobreza endêmicos e as altas taxas de HIV/Aids, manteve-se em 60 em 2015, de acordo com o Banco Mundial.
Celulares são o principal meio de comunicação no Zimbábue.
Enquanto a maioria das pessoas têm esse tipo de telefone, 43% da residências têm um rádio, 37% têm TV e 10% têm computador, segundo dados oficiais.
Depois de um crescimento intenso após a independência em 1980, uma queda na taxa de natalidade fez a população declinar em seguida.
Com as altas taxas de imigração, a população ainda não se recuperou — e voltou aos índices de antes.
BBC BRASIL
Escrito e produzido por Lucy Rodgers.