Vacina apresentou a menor incidência de efeitos adversos; segurança já havia sido comprovada em outras pesquisas
Um estudo realizado em Hong Kong com 74 mil pacientes com câncer ou com histórico da doença voltou a mostrar que a CoronaVac é uma vacina segura para esse público, apresentando o menor índice de reações adversas na comparação com vacinas de RNA mensageiro. O trabalho foi publicado na revista Journal of Hematology & Oncology e conduzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Hong Kong.
Foram selecionados 74.878 indivíduos que já foram diagnosticados com câncer, divididos em dois grupos: pacientes com câncer ativo (25.789 ou 34% do total) e pessoas com histórico de câncer (49.089 ou 66%). Os voluntários receberam duas doses de CoronaVac ou Pfizer e os resultados foram comparados aos de pacientes não imunizados.
Aqueles que tomaram CoronaVac tiveram a menor incidência de reações adversas registrada em todo o ensaio. Nos pacientes com câncer ativo, a incidência de eventos adversos diários foi 0,13 para 10 mil pessoas vacinadas com CoronaVac, e 0,31 naquelas que receberam vacina produzida com a tecnologia de RNA mensageiro. Entre os não vacinados, a incidência foi maior, de 1,02.
Já entre as pessoas com histórico de câncer, a ocorrência de efeitos adversos diários da CoronaVac foi de 0,42 para 10 mil pessoas, enquanto a da vacina de RNA mensageiro foi de 0,55. No grupo que não recebeu nenhum imunizante, a taxa foi de 0,93.
Os pesquisadores concluíram que nenhuma das vacinas aumenta a frequência de eventos adversos nos pacientes com câncer ou com histórico da doença – pelo contrário, aqueles não vacinados correm mais risco de sofrer com esses eventos. No período do estudo, em setembro de 2021, a taxa geral de vacinação contra a Covid-19 em Hong Kong atingiu 58,8%, mas apenas 30,2% dos pacientes com câncer haviam se vacinado.
“Os resultados reforçam a segurança do imunizante em indivíduos com câncer, o que pode incentivar o aumento da cobertura vacinal nesse grupo mais vulnerável”, apontam os cientistas.
Evento adverso de interesse especial
Durante a pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que, no caso das campanhas de imunização contra a Covid-19, um evento adverso de interesse especial (AESI, na sigla em inglês) é um evento específico clinicamente significativo associado a uma vacina, cujos efeitos precisam ser cuidadosamente monitorados e avaliados.
Segundo a OMS, condições comumente identificadas como AESI incluem síndrome de Guillain-Barré, encefalomielite aguda, anafilaxia, eventos graves potencialmente relacionados a novas vacinas e adjuvantes, assim como qualquer doença cujo aumento da gravidade está associado ao imunizante, como o câncer.
Histórico comprovado de segurança
O estudo feito em Hong Kong sustenta os resultados de um outro trabalho realizado na Turquia, que mostrou que a CoronaVac é eficaz e protege pacientes com câncer. Entre os pacientes analisados, 85,2% produziram anticorpos contra o SARS-CoV-2, com títulos médios de 363,9 UA/mL. Outra pesquisa turca feita nesse público mostrou que a taxa de soroconversão chegou a 100% nos pacientes que recebiam apenas anticorpo monoclonal ou imunoterapia como tratamento.
*Este texto é uma colaboração do jornalista científico Peter Moon para o portal do Butantan