Dois surtos da doença de Chagas foram confirmados na semana passada no município de Acará, no nordeste do Pará.
O estado é responsável pela maior parte das ocorrências da enfermidade no Brasil, que teve, entre 2007 e 2016, uma média anual de 200 casos, de acordo com o Ministério da Saúde.
No período, 69% das infecções registradas em todo o território nacional foram por transmissão oral, 9% por transmissão vetorial e em 21% não foi identificada a forma de inoculação.
Também conhecida como Tripanossomíase americana, a doença é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e tem como principal vetor um tipo de percevejo popularmente conhecido como barbeiro.
A transmissão vetorial geralmente ocorre quando as fezes do inseto, contaminadas com o protozoário, são depositadas na pele enquanto o barbeiro suga o sangue da pessoa.
A coceira provocada pela picada facilita a entrada do tripanossomo no organismo.
Já a transmissão oral está associada, na maioria dos casos, ao consumo de açaí contaminado, em razão do uso acentuado da fruta na culinária da região Norte.
Outros tipos de alimentos, entretanto, também podem disseminar o protozoário causador da doença de Chagas.
De acordo com Ana Yecê das Neves Pinto, pesquisadora em saúde pública do Instituto Evandro Chagas (IEC), também é possível, ainda que em menor escala, a difusão por transfusão de sangue infectado; transmissão congênita pela placenta (de mãe infectada para o filho); por transplante de órgãos; e a transmissão sexual.
Sintomas
Na maioria das situações, a fase aguda da doença de Chagas, que ocorre dias após a infecção, é assintomática, sendo possível que o portador leve de 20 a 40 anos para apresentar os sintomas – momento em que ocorre a fase crônica da enfermidade.
Nos casos em que a doença já se manifesta nesta fase inicial, os sintomas geralmente envolvem febre, mal-estar, inflamação dos gânglios linfáticos e inchaço do fígado e do baço.
Já na fase crônica, os pacientes podem apresentar aumento do volume do coração, lesões cardíacas, alterações do ritmo de contração e inchação do esôfago e do estômago.
Prevenção
Ainda não há vacina contra a doença de Chagas, o que faz com que os métodos preventivos sejam essenciais para o controle da enfermidade.
Para Ana Yecê, que é infectologista e coordena o protocolo clínico de pesquisa em doença de Chagas do IEC, o cuidado higiênico com a manipulação do açaí, pelo fato de se tratar de um alimento muito popular no norte do Brasil e por ser consumido cru, é a principal forma de prevenção da doença.
“Considerando o fenômeno epidemiológico que ocorre na Amazônia, o da transmissão oral, você tem que, basicamente, cuidar da alimentação.
As pessoas têm que se proteger nesse sentido. Elas têm que buscar um local onde elas possam comprar um açaí de qualidade, que tenha o selo da vigilância sanitária”, destaca a médica.
Já para evitar o contato direto com o barbeiro, a conservação das casas é essencial. “Em relação à proteção do inseto, que também é uma realidade para nós, as pessoas que vivem em áreas diversas, onde tem o inseto, protegem-se por meio da limpeza do seu quintal, telando sua casa, porque o inseto é grande e incapaz de entrar se a casa não tiver frestas”, completa a especialista.
Com informações do Ministério da Saúde, Instituto Evandro Chagas, Fiocruz e Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos