As crianças apresentam progressos em espaços de tempo definidos, chamados de marcos de desenvolvimento. Estes aprendizados precisam ser acompanhados de perto.
Quem tem ou teve bebê fica surpreso a cada conquista e ansioso para a chegada de cada nova etapa, quando vai engatinhar, ficar de pé, falar.
É que as crianças passam por um processo de desenvolvimento gradual, com conquistas esperadas. Essas caraterísticas motoras, cognitivas, socieafetivas, de comunicação e linguagem são avaliadas a partir dos “marcos de desenvolvimento”. Eles podem definir a saúde física e psicológica da criança e do adulto que ela vai se tornar.
Gilvani Grangeiro, técnica da Coordenação de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, ressalta que, para o desenvolvimento da criança, são determinantes os papeis dos pais, dos profissionais de saúde, dos educadores e todos que cercam essa criança, como babás, tios, avós.
“A melhor pessoa que pode observar o desenvolvimento do filho é seu cuidador principal, na maioria dos casos a mãe, mas também pode ser o pai, que tem um papel importante. Todas as pessoas que cuidam da criança têm responsabilidade sobre como ela está se desenvolvendo.
E a vigilância desse desenvolvimento possibilita identificar quando algo não vai bem para que o encaminhamento seja feito em tempo oportuno”, explica.
E como essa atenção deve acontecer? A Caderneta de Saúde da Criança disponibiliza o “instrumento de vigilância do desenvolvimento”. Ela traz os marcos que devem ser acompanhados para saber se a criança já alcançou ou não.
Por exemplo, aos dois meses começa a sorrir para as pessoas, aos nove usa os dedos para apontar, entre outros. São estes aprendizados que precisam ser acompanhados.
Segundo a Coordenação de Saúde da Criança, não há diferenças entre o desenvolvimento de meninos e meninas.
No entanto, a genética, o ambiente e os estímulos em que eles vivem podem influenciar. Isso significa que se desenvolvem melhor os bebês que recebem estímulos e possuem com os cuidadores vínculo afetivo forte e bem estruturado.
“As ciências apontam que a estimulação deve começar na gestação, porque a criança já vai construindo percepções neuronais que vão favorecer o desenvolvimento dela, especialmente nos primeiros mil dias de vida”, completa Grangeiro.
Vigilância do desenvolvimento
Tem sido assim com a pedagoga e psicóloga Kamila Feitosa, que é mãe do Igor, de dois anos. Ela não sabia o que eram os marcos de desenvolvimento, mas logo depois do nascimento do filho, nas consultas periódicas, ela foi orientada pelo médico a observar cada progresso do bebê.
“Todo mês ele ficava um bebê diferente. Tinha alteração no sono, queria mais ou menos colo, é muita coisa que eles aprendem. Eu percebia a transformação de mês a mês”, lembra.
No caso do Igor, foi tudo dentro do tempo esperado. Contudo, a Kamila continua atenta aos progressos do filho.
E também consegue dar uma ajudinha a outras mães, porque ela trabalha com crianças e busca vigiar o desenvolvimento delas.
“Alguns pais às vezes deixam passar muita coisa. Tenho alunos que chegam aqui com uma deficiência visual ou auditiva muito grande. E eles acham que é normal. E não é”, chama a atenção.
Em casa, a Kamila comemora cada aprendizado. “Agora o Igor está na fase de reconhecer e externelizar as emoções. Eu continuo de olho em tudo.”
Para auxiliar mães, pais e responsáveis a vigilância dos marcos de desenvolvimento, o Ministério da Saúde indica a Caderneta de Saúde da Criança.
O documento do Sistema Único de Saúde (SUS) é utilizado para acompanhar a criança desde o nascimento até os nove anos completos.
Nele, os profissionais de saúde, durante as consultas, fazem a avaliação do crescimento e desenvolvimento, e registram o alcance dos marcos do desenvolvimento pela criança de acordo com a idade.
A Caderneta traz os cuidados essenciais logo nos primeiros dias de vida do bebê, incluindo informações sobre a amamentação, por exemplo.
“Sugar o peito é um excelente exercício para o desenvolvimento da face da criança, ajuda a ter dentes bonitos, a desenvolver a fala e a ter uma boa respiração”. São inúmeras dicas.
Cada criança tem seu tempo
“Caso a criança não apresente aquele marco dentro do tempo previsto, não significa que seja um problema de saúde.
Cada criança tem seu tempo”, mas ficar atento e estimular a criança, promovendo vínculos fortes e duradouros é importante”, explica Gilvani Grangeiro.
Se a demora persistir, essa criança terá uma atenção especial nos serviços de saúde, por meio de uma investigação, para saber se é necessária alguma intervenção.
“O importante é que a preocupação dos pais seja repassada aos profissionais de saúde”. Essa é a principal dica do Ministério da Saúde.
Estimulando o desenvolvimento da criança com afeto
0 a 2 meses
Para que o bebê se desenvolva bem, é necessário, antes de tudo, que seja amado e desejado pela sua família e que esta tente compreender seus sentimentos e satisfazer suas necessidades. A ligação entre a mãe e o bebê é muito importante neste início de vida; por isso, deve ser fortalecida.
Converse com o bebê, buscando contato visual (olhos nos olhos). Não tenha vergonha de falar com ele de forma carinhosa, aparentemente infantil.
É desse modo que se iniciam as primeiras conversas. Lembre-se de que o bebê reconhece e se acalma com a voz da mãe. Nessa fase, o bebê se assusta quando ouve sons ou ruídos inesperados e altos.
Preste atenção no choro do bebê. Ele chora de jeito diferente dependendo do que está sentindo: fome, frio/calor, dor, necessidade de aconchego.
Estimule o bebê mostrando-lhe objetos coloridos a uma distância de mais ou menos 30 cm.
Para fortalecer os músculos do pescoço do bebê, deite-o com a barriga para baixo e chame sua atenção com brinquedos ou chamando por ele, estimulando-o a levantar a cabeça. Isto o ajudará a sustentá-la.
2 a 4 meses
Brinque com o bebê conversando e olhando para ele.
Ofereça objetos para ele pegar, tocar com as mãos.
Coloque o bebê de bruços, apoiado nos seus braços, e brinque com ele, conversando ou mostrando-lhe brinquedos à sua frente.
Observe que o bebê brinca com a voz e tenta “conversar”, falando “aaa, qqq, rrr”.
4 a 6 meses
Ao oferecer algo para o bebê (comida, brinquedo etc.), espere um pouco para ver sua reação. Com isso, ele aprenderá a expressar aceitação, prazer e desconforto.
Acostume o bebê a dormir mais à noite.
Ofereça brinquedos a pequenas distâncias, dando a ele a chance de alcançá-los.
Proporcione estímulos sonoros ao bebê, fora do seu alcance visual, para que ele tente localizar de onde vem o som, virando a cabeça.
Estimule-o a rolar, mudando de posição (de barriga para baixo para barriga para cima). Use objetos e outros recursos (brinquedos, palmas etc.).
6 a 9 meses
Dê atenção à criança demonstrando que está atento aos seus pedidos. Nesta idade, ela busca chamar a atenção das pessoas, procurando agradá-las e obter a sua aprovação.
Dê à criança brinquedos fáceis de segurar, para que ela treine passar de uma mão para a outra.
Converse bastante com a criança, cante, use palavras que ela possa repetir (dadá, papá etc.). Ela também pode localizar de onde vem o som.
Coloque a criança no chão (esteira, colchonete) estimulando-a a se sentar, se arrastar e engatinhar.
9 meses a 1 ano
Brinque com a criança com músicas, fazendo gestos (bater palmas, dar tchau etc.), solicitando sua resposta.
Coloque ao alcançe da criança, sempre na presença de um adulto, objetos pequenos como tampinhas ou bolinha de papel pequena, para que ela possa apanhá-los, usando o movimento de pinça (dois dedinhos). Muito cuidado para que ela não coloque esses objetos na boca, no nariz ou nos ouvidos.
Converse com a criança e use livros com figuras. Ela pode falar algumas palavras como (mamã, papá, dá) e entende ordens simples como “dar tchau”.
Deixe a criança no chão para que ela possa levantar-se e andar se apoiando.
1 ano a 1 ano e 3 meses
Seja firme e claro com a criança, mostrando-lhe o que pode e o que não pode fazer.
Afaste-se da criança por períodos curtos, para que ela não tenha medo da sua ausência.
Estimule o uso das palavras em vez de gestos, usando rimas, músicas e sons comumente falados.
Ofereça à criança objetos de diversos tamanhos, para que ela aprenda a encaixar e retirar um objeto do outro.
Crie oportunidades para ela se locomover com segurança, para aprender a andar sozinha.
1 ano e 3 meses a 1 ano e 6 meses
Continue sendo claro e firme com a criança, para que ela aprenda a ter limites.
Conte pequenas histórias, ouça música com a criança e dance com ela.
Dê ordens simples, como “dá um beijo na mamãe”, bate palminha.
Dê à criança papel e giz de cera (tipo estaca, grosso) para que ela inicie os seus rabiscos. Isto estimula a sua criatividade.
Crie oportunidades para a criança andar não só para frente como também para trás (puxando carrinho etc.).
1 ano e 6 meses a 2 anos
Estimule a criança a colocar e tirar suas roupas, inicialmente com ajuda.
Ofereça brinquedos de encaixe, que possam ser empilhados, e mostre como fazer.
Mostre figuras nos livros e revistas falando seus nomes.
Brinque de chutar bola (fazer gol).
Observe que a criança começa a juntar palavras e a falar frases simples como “gato cadê?” ou “leite não”.
Entenda que nesta idade a criança demonstra ter vontade própria, testa limites e fala muito a palavra não.
2 anos a 2 anos e 6 meses
Continue estimulando a criança para que ela se torne independente em atividades de autocuidado diário, como, por exemplo, na alimentação (iniciativa para se alimentar), no momento do banho e de se vestir.
Comece a estimular a criança a controlar a eliminação de fezes e urina, em clima de brincadeira, sem exercer pressão ou repreender. Gradativamente, estimule o uso do sanitário.
Estimule a criança a brincar com outras crianças.
2 anos e 6 meses a 3 anos
Converse bastante com a criança, peça para ela comentar sobre suas brincadeiras e nomes de amigos, estimulando a linguagem e a inteligência.
Dê oportunidade para ela ter contato com livros infantis, revistas, papel, lápis, giz de cera. Leia, conte historinhas, brinque de desenhar, recortar figuras, colagem.
Mostre para ela figuras de animais, peças do vestuário, objetos domésticos e estimule a criança a falar sobre eles: o que fazem, para que servem (ex.: quem mia?).
Faça brincadeiras utilizando bola e peça para a criança jogar a bola em sua dire- ção, iniciando, assim, brincadeira envolvendo duas ou mais pessoas.