Estudo aponta que para pessoas do tipo sanguíneo A o risco de ter um derrame precoce foi 16% maior
O acidente vascular cerebral (AVC), também chamado de derrame, acontece quando vasos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem, provocando paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea. O problema pode comprometer a movimentação dos membros e está entre as principais causas de incapacidade e de morte no mundo.
Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, encontraram associação entre ser do tipo sanguíneo A ao risco aumentado de sofrer um AVC antes dos 60 anos. Os resultados do estudo foram publicados no periódico científico Neurology.
Os cientistas analisaram dados de pelo menos 48 estudos realizados na América do Norte, Europa, Japão, Paquistão e Austrália sobre genética e AVC isquêmico, que acontece pelo entupimento de veias e artérias responsáveis pela irrigação de diferentes partes do cérebro. Os dados de 17 mil pessoas que sofreram derrame ao longo da vida foram comparados aos de quase 600 mil pessoas que nunca desenvolveram a doença.
Durante a análise, os pesquisadores notaram que o tipo sanguíneo A predominou em comparação com pessoas que tiveram AVC com 60 anos ou mais ou nunca tiveram. De acordo com o estudo, para essas pessoas, o risco de ter um derrame precoce foi 16% maior. Já para aqueles indivíduos com o tipo O, o risco foi 12% menor.
Estudos complementares
O médico neurologista Guilherme Diogo, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) explica que o estudo realiza uma associação de genoma.
“Ele consegue ver essa relação, mas não testa o mecanismo dela. Então, ele traz algumas hipóteses junto com outros estudos. Uma das ideias é que o sistema ABO é dado por glicoproteínas que, além de estarem nos glóbulos vermelhos, também têm relação com proteínas em plaquetas na parede dos vasos. Isso muda os fatores de coagulação e foi mostrado em outros estudos anteriores uma mudança de fator de coagulação. Quem é do tipo A tem uma tendência maior a fazer coágulos e também tem mais trombose venosa”, afirma Diogo, em comunicado.
O médico que atua nas áreas de neuroimunologia e de emergências neurológicas, pondera que não é possível afirmar que pessoas com o grupo sanguíneo A estão mais suscetíveis ao AVC precoce com base nas evidências científicas até o momento. Para o especialista, a descoberta internacional pode abrir portas para que a comunidade científica entenda melhor quais fatores podem estar relacionados ao problema.
“A ideia desses estudos de risco por genética é combinar vários fatores. Por exemplo, a gente pode juntar várias dessas mutações genéticas a fatores ambientais também. Será que eu vou conseguir desenvolver mais algum exame, mais algum tratamento precoce a partir daquela mutação? Sozinho, esse estudo não vai conseguir fazer isso, mas pode ser um passo para virar algo complexo”, diz.
- (Com informações do Jornal da USP)
- Texto publicado originalmente na CNN