Celulite é uma denominação comum para algumas condições de pele. O uso mais frequente do termo é para descrever a condição de acúmulo de gordura sob a pele, também conhecida como lipodistrofia ginoide. Entretanto, o termo celulite pode referir-se a uma condição infecciosa, que necessita de pronto reconhecimento e instituição de terapia específica.
Celulite Infecciosa: o que é?
A celulite infecciosa é uma inflamação de partes moles localizada caracterizada por infiltração leucocítica da derme, dilatação capilar e proliferação bacteriana. Envolve a derme profunda e o tecido subcutâneo.
Algumas condições predisponentes estão associadas ao desenvolvimento de celulites recorrentes, como estase venosa crônica, safenectomias para cirurgias de revascularização arterial e cicatrizes de queimaduras.
Bactérias da microbiota da pele são os agentes etiológicos mais comuns, especialmente Staphylococcus aureus e estreptococos. Algumas condições estão associadas a outros agentes, por exemplo:
Streptococcus agalactiae em pacientes com diabetes mellitus ou doença vascular periférica.
Haemophilus influenzae como causa de celulite periorbital em crianças em associação com sinusite, otite média ou epiglotite.
Mordeduras de gatos e, mais raramente, de cachorros podem estar associadas a celulite por Pausterella multocida, S. intermedius e Capnocytophaga canimorsus.
Mordeduras de cães e humanos frequentemente contém microrganismos anaeróbios.
Lesões de pele associadas a exposição a fontes de água podem envolver Aeromonas hydrophila e Vibrio vulnificus.
Pseudomonas aeruginosa podem estar envolvidas em celulites pós lesões traumáticas penetrantes.
Uma condição semelhante — também de origem infecciosa — e frequentemente confundida é a erisipela. Diferente da celulite infecciosa, a erisipela acomete derme superficial e vasos linfáticos superficiais. O agente clássico da erisipela é o Streptococcus pyogenes, cuja toxina é a responsável pelo quadro clínico. Mais raramente, erisipelas podem ser causadas por Campylobacter jejuni ou Campylobacter fetus, especialmente em pacientes com agamaglobulinemia e ocasionalmente em pacientes com AIDS. Linfedemas locais, como os que se desenvolvem após mastectomia, são fatores predisponentes a erisipelas recorrentes.
Como identificar e diagnosticar Celulite Infecciosa
Quadros de celulite geralmente caracterizam-se por quadro de dor localizada, eritema, edema e calor em uma região da pele, mais comumente extremidades. O desenvolvimento dos sintomas costuma ser indolente, evoluindo ao longo de alguns dias. O eritema característico é tênue e de margens indefinidas. Pode-se apresentar com secreção purulenta ou não.
O diagnóstico é essencialmente clínico, com anamnese e exame físico, atentando-se para fatores predisponentes, história de trauma e possíveis portas de entrada, tempo de evolução e as características do acometimento da pele. Exames laboratoriais costumam ser inespecíficos, podendo apresentar leucocitose com neutrofilia e parâmetros inflamatórios, como proteína C reativa (PCR), elevados. Na ausência de sinais e sintomas sistêmicos, hemoculturas frequentemente são negativas.
Erisipela constitui-se o principal diagnóstico diferencial. Acomete, de forma mais frequente, idosos, envolvendo comumente extremidades e face. O início é abrupto, com progressão rápida e dor importante. O eritema característico é mais vívido do que o da celulite infecciosa e suas margens são bem definidas. Bolhas superficiais podem se desenvolver no segundo ou terceiro dia, mas extensão a tecidos profundos e formação de coleções são raros.
Outras condições, até mesmo de origem não infecciosa, podem mimetizar quadros de celulite. Uma abordagem para outros diagnósticos diferenciais pode ser encontrada na matéria abaixo:
Tratamento e acompanhamento da Celulite Infecciosa
Considerando que os principais agentes de celulite infecciosa são S. aureus e estreptococos, os betalactâmicos constituem-se os principais antimicrobianos para o tratamento ambulatorial e hospitalar. Clindamicina e sulfametoxazol-trimetoprim (SMX-TMP) são alternativas para pacientes alérgicos a betalactâmicos, apesar de níveis variáveis de resistência na comunidade.
Pacientes com acometimento bem localizado, em bom estado clínico e com condições de administração de medicamentos por via oral podem ser tratados ambulatorialmente. Aqueles com sinais de toxemia, doença extensa ou incapazes de tomar medicamentos por via oral devem receber terapia parenteral.
As principais opções VO incluem:
Amoxicilina/clavulanato 500/125 mg, 8/8 horas;
Cefalexina 500 mg-1 g, 6/6 horas;
Clindamicina 300-450 mg, 6/6 horas;
SMX-TMP 800/160 mg, 12/12 horas.
Já para terapia parenteral, os antibióticos de escolha são:
Cefazolina 1-2 g, 8/8 horas
Amoxicilina/clavulanato 1 g/125 mg, 8/8 horas
Ceftriaxone 2 g, 1x/dia
Clindamicina 600 mg, 8/8 horas
SMX-TMP 800/160 mg, 12/12 horas
O tempo de tratamento depende da resposta clínica e da extensão do quadro, durando normalmente entre 7 a 10 dias. O acompanhamento é predominantemente clínico, com melhora dos sinais flogísticos. Espera-se também queda nos parâmetros inflamatórios e normalização de leucograma.
Em casos de falha terapêutica, deve-se avaliar adequação de dose e da via de administração, considerando fatores como peso e comorbidades, como diabetes mellitus. Em algumas ocasiões, prolongar o tratamento pode ser necessário. Outro ponto de atenção especial é em relação ao desenvolvimento de abscessos, que podem necessitar de drenagem.
Fonte – Portal PEBMED