A sífilis congênita ocorre quando uma mãe infectada transmite a doença para a criança, durante a gestação ou parto. Esse tipo de transmissão é conhecida como “vertical”.
Tanto as gestantes com sífilis não tratada como aquelas que realizaram o tratamento de forma inadequada podem representar riscos ao embrião.
A transmissão da bactéria que causa a sífilis “ocorre em qualquer momento durante a gestação através da placenta, mas ocorre com frequência crescente à medida que a gestação avança”, explica o infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Hospital Gaffreé e Guinle (Unirio), Marcos Davi Gomes.
Segundo ele, “gestantes com sífilis não tratada, primária (cancro ou ferida indolor) ou secundária (manchas pelo corpo, palmas e plantas) têm maior probabilidade de transmitir sífilis aos seus fetos do que mulheres com doença latente (assintomática)”.
A recomendação do Ministério da Saúde é de que as grávidas sejam testadas pelo menos em três momentos:
- Primeiro trimestre;
- Terceiro trimestre;
- Momento do parto ou em casos de aborto.
De acordo com a pasta, a doença pode causar abortamento espontâneo, parto prematuro, malformação do feto, surdez, cegueira, alterações ósseas, deficiência mental e/ou morte ao nascer.
No entanto, a maior parte dos bebês com sífilis congênita não apresentam sintomas ao nascer. As manifestações clínicas costumam ocorrer nos primeiros três meses, durante ou após os dois anos de vida da criança.
“Aproximadamente 60% a 90% dos recém-nascidos vivos com sífilis congênita são assintomáticos ao nascimento; apenas os casos mais graves nascem com sinais ou sintomas. A infecção evidente pode se manifestar no feto, no recém-nascido ou mais tarde na infância, se o bebê não for tratado de forma adequada e oportuna”, esclarece o infectologista.
Segundo os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde, até junho de 2022 foram constatados 79,5 mil casos de sífilis adquirida, 31 mil registros de sífilis em gestantes e 12 mil ocorrências de sífilis congênita no país.
O que deve ser feito com bebês expostos?
Os bebês que nasceram de gestantes que tiveram sífilis devem ser acompanhados desde o nascimento até as consultas pediátricas para realização de testes que descartem a sífilis congênita.
No caso das crianças expostas à doença de mães não tratadas, ou tratadas de forma inadequada, diversas intervenções podem ser necessárias, como: coleta de amostras de sangue, avaliação neurológica (incluindo punção lombar), raio-X de ossos longos, avaliação oftalmológica e audiológica, além de possível internação prolongada, informa o Ministério da Saúde.
A pasta ressalta que os bebês de mães que que foram tratadas adequadamente também devem ser “cuidadosamente” avaliados.
De acordo com a médica Ariane de Castro Coelho, ginecologista e obstetra do Centro de Referência em DST/Aids de São Paulo, o tratamento adequado “deve ser feito com Benzilpenicilina Benzatina por três semanas, respeitando rigorosamente o intervalo de 7 dias entre as doses”.
A médica ainda ressalta que “se a gestante for alérgica à penicilina, ela deve ser submetida ao tratamento de dessensibilização, pois o bebê não é considerado tratado se usar outro medicamento diferente da penicilina”.
O diagnóstico do bebê será feito através da história clínico-epidemiológica da mãe e de exames físicos, radiológicos e laboratoriais da criança.
O que causa a sífilis?
A sífilis é causada por uma bactéria conhecida como Treponema pallidum. Apesar de ser uma doença que tem cura, quando não tratada, a infecção pode resultar em complicações graves, como lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.
A patologia se divide em quatro estágios:
- Sífilis primária: lesão, geralmente única, no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca, ou outros locais da pele), que aparece entre 10 e 90 dias após o contágio. Ferida desaparece sozinha, independentemente de tratamento, e traz falsa impressão de cura;
- Sífilis secundária: podem surgir manchas no corpo, além de febre, mal-estar, dor de cabeça e ínguas. Esses sintomas costumam surgir entre seis semanas e seis meses do aparecimento e cicatrização da ferida inicial. O desaparecimento dos sinais pode trazer falsa impressão de cura;
- Sífilis latente: não aparecem sinais ou sintomas durante um período indeterminado de tempo;
- Sífilis terciária: é considerado o estágio mais grave da doença, em que podem surgir lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte. Essa fase pode ocorrer de 1 a 40 anos após a infecção.
Segundo o Ministério da Saúde, o diagnóstico pode ser realizado de forma prática e acessível através do teste rápido (TR) de sífilis, que está disponível nos serviços de saúde do SUS (Sistema Único de Saúde).
Por ser uma doença sexualmente transmissível, usar preservativo regularmente é o melhor caminho para a prevenção. Além disso, a médica recomenda “fazer testagem para a infecção periodicamente, bem como para outras ISTs [Infecções Sexualmente Transmissíveis], como HIV, hepatites B e C”.
O infectologista Marcos Davi acrescenta que, caso o parceiro sexual seja diagnosticado com sífilis, “a pessoa exposta deve realizar a profilaxia com penicilina benzatina por via intramuscular, independente do resultado do seu exame”.
- Texto originalmente publicado em CNN Brasil