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Biopsia líquida para câncer colorretal

Uma revisão recente analisou trabalhos já publicados sobre a detecção do DNA circulante como forma de identificação de micrometástases em câncer colorretal.

O câncer colorretal é um dos tumores sólidos nos quais as modalidades cirúrgicas e sistêmicas de tratamento têm sofrido uma grande evolução na terapêutica. Diferente de outros tumores sólidos, como os gástricos, existem diversas estratégias de resgate, seja cirúrgico ou com quimioterapia.

O acompanhamento de um paciente com câncer colorretal é super bem estabelecido com tomografias, colonos e dosagem de marcadores tumorais em intervalos já consolidados. Esse acompanhamento mais rígido é justamente para as manobras de resgate serem utilizadas da forma mais precoce possível.

Atualmente, possuímos a possibilidade de detecção de DNA tumoral circulante em sangue periférico, mas a relevância clínica desse achado ainda não está firmada. O racional para a realização de uma quimioterapia adjuvante após uma cirurgia com intuito curativo seria o combate a micrometástase que não foram ressecadas junto à peça e não são detectáveis pelos métodos tradicionais. A detecção do DNA circulante seria, talvez, uma forma de identificação dessas micrometástases.

Um trabalho publicado na Clinical Colorectal Cancer, de março de 2023, faz uma revisão sobre os principais trabalhos publicados que versam sobre o tema.

CIRCULATE-Japan

O objetivo desse trabalho foi agregar dados, incluindo alguns ensaios clínicos, com a intenção de coletar e processar informações sobre a relevância do achado de DNA circulante em pacientes submetidos a colectomias com intuito curativo.

Na análise, havia 1.039 pacientes em um braço do estudo e 187 possuíam DNA circulante com 4 semanas de pós-operatório. Destes, 61,4% (115/187) apresentaram recorrência, enquanto apenas 81 dos 852 com DNA negativo recorreram a doença (9,5%), o que significa um risco relativo de 10,0 (95% IC; 7,7-14).

Aos 18 meses de observação, 38,4% dos pacientes, que apresentaram uma biópsia líquida positiva na 4ª semana, estavam livres de doença, contrapondo-se com 90,5% nos casos de biópsia negativa na 4ª semana.

Na análise de subgrupos, demonstrou-se que pacientes com DNA circulante que receberam quimioterapia obtiveram um melhor desempenho de intervalo livre de doença aos 18 meses de observação do que aqueles que não receberam com 61,6% e 22% respectivamente.

Esses achados sugerem que os pacientes com DNA circulante na 4ª semana se beneficiam mais da quimioterapia adjuvante, que aqueles pacientes com DNA negativo.

Perspectivas e desafios

O uso do DNA circulante pode auxiliar na duração e nas indicações de quimioterapias de pacientes submetidos a tratamento cirúrgico.

Diversos ensaios clínicos estão em progresso na busca de uma resposta técnica da utilidade desses achados e se podem ser diretamente aplicados. A maioria dos estudos analisam quimioterápicos convencionais, no entanto outros têm utilizado mutações para determinar o uso de biológicos.

Contudo, o desafio é manter atualizado o banco de tumor dos diferentes testes de busca de DNA circulante, visto que uma nova mutação poderia passar “despercebida” por esses testes de DNA. Felizmente a maior parte das novas mutações, ocorrem em sítios distintos de onde os testes possuem seus alvos.

Em conclusão, os achados do CIRCULATE-Japan sugerem fortemente a continuação de investigações para determinar o benefício do DNA circulante e para determinar a tomada de decisões clínicas.

Veja ainda: Queda da cobertura vacinal contra HPV e risco de aumento de cânceres evitáveis

Para levar para casa

A utilização de biópsias líquidas é a nova fronteira da medicina e seus benefícios clínicos estão começando a se tornar realidade. Esse método é capaz, de forma quase que direta, de avaliar o comportamento biológico de cada tumor no próprio indivíduo.

Apenas os aspectos histopatológicos, podem falhar na determinação da agressividade tumoral. Já há alguns anos utilizamos a imunohistoquímica nos tumores colorretais na avaliação de instabilidade microssatélite, entre outros.

Assim como a imunohistoquímica determina ou não a quimioterapia adjuvante, em breve a pesquisa de DNA circulante também poderá ter esta função.

 

 

– Texto publicado originalmente no Portal PEBMED

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