Baixa dosagem diminui inflamações na tubas, que favorecem doença; médico ressalta que ainda se trata de estudo e medicação não deve ser utilizada
Um estudo publicado na JAMA Oncology, revista científica da American Medical Association, associou o uso contínuo de aspirina infantil à redução do risco de câncer de ovário.
O estudo foi realizado por pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Harvard, com o Brigham and Women’s Hospital e Moffitt Cancer Center, nos Estados Unidos.
Eles acompanharam cerca de 200 mil mulheres ao longo de 25 anos que tomavam aspirina infantil, aspirina de dosagem normal e outros anti-inflamatórios. Dentro desse grupo foram observados 1.054 casos de câncer de ovário.
Como resultado final da pesquisa, foi constatado que mulheres que usavam diariamente a aspirina infantil — 100 mg ou menos — tiveram uma redução de 23% no risco de câncer de ovário, enquanto as que tomavam aspirina de dosagem normal, não. Já as que não usavam aspirina, mas sim anti-inflamatórios não-esteróides (AINEs), apresentaram um risco 19% maior de desenvolver a doença.
O que realmente diferenciou este estudo foi que fomos capazes de analisar a aspirina em baixas doses separadamente da aspirina em dose padrão. Os resultados enfatizam que se deve considerar a dose de aspirina”, afirmou Mollie Barnard, que liderou a pesquisa, no site da Escola de Saúde Pública de Harvard.
O ginecologista Jesus Carvalho, presidente da Comissão Nacional de Ginecologia Oncológica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), afirma que as inflamações crônicas nas tubas uterinas, causadas pela ovulação, favorecem o aparecimento do câncer de ovário e o anti-inflamatório agiria para diminuir essas inflamações. “É uma descoberta recente e vale a pena prestar a atenção nos desdobramentos dessa pesquisa, pois pode trazer inúmeros avanços”, afirma.
A pesquisa ressalta que estudos têm relatado ainda a associação entre um número maior de ciclos ovulatórios ao longo da vida e o risco de câncer de ovário.
Carvalho alerta que o medicamento não deve ser usado de maneira indiscriminado por conta de uma evidência científica. “A aspirina não é recomendada para todas as pessoas. O uso contínuo desse medicamento é recomendado para pessoas com hipertensão, com risco de infarto, e com colesterol alto, pois afina o sangue. Se usado incorretamente, pode provocar sangramentos indesejados de úlceras ou aumentar o volume de sangue durante a menstruação”, explica o médico.
R7