A síndrome da aracnoidite adesiva, uma complicação extremamente grave, porém rara da anestesia subaracnoidea, foi recentemente muito divulgada nas redes sociais devido ao caso de uma jovem atriz ter adquirido essa síndrome após uma raquianestesia para realização da sua cesareana. Infelizmente, após muitos meses em tratamento intensivo, a jovem atriz evoluiu para o óbito.
A aracnoidite corresponde a uma inflamação da membrana aracnoide da medula espinhal, e a aracnoidite adesiva, um subtipo da aracnoidite, corresponde a formação de uma cicatriz na membrana após essa inflamação.
Ela pode ser causada por patógenos externos, injeções de substâncias ou por traumas diretos, ocorrendo tanto em cirurgias de coluna como após bloqueios espinhais. O primeiro caso foi evidenciado em 1929 e foi relacionado a uma cirurgia neurológica da coluna espinhal.
A inflamação que ocorre na membrana aracnoide torna-se crônica e de longa duração, levando a formação de um tecido cicatricial que acaba comprimindo as raízes nervosas e formando compartimentos subaracnóideos que dificultam tanto a irrigação sanguínea local como o fluxo do liquor cefaloraquidiano.
Essa síndrome manifesta-se dias ou meses após um procedimento que envolva a coluna espinhal e apresenta um quadro clínico complexo, às vezes de difícil diagnóstico. Quando o diagnóstico e tratamento são postergados, na grande parte das vezes, evolui de forma maligna com ossificação local evoluindo para paraplegia completa e óbito.
Sinais e sintomas
Na maioria das vezes o paciente começa a apresentar um quadro de lombalgia crônica de forte intensidade com hipersensibilidae em membros inferiores. É muito comum o paciente se queixar de sensação de “água escorrendo pelas pernas ou insetos andando”.
Além disso, pode apresentar dor radicular irradiada para o membro correspondente ao local da lesão espinhal, devido ao pinçamento do nervo. Essa dor evolui para sintomas de formigamento e dormência. Mais tardiamente, o paciente evolui para alterações motoras com quadro de fraqueza muscular e paralisia.
Outros sintomas que também podem estar presentes são náuseas, cefaleia, tonturas, alterações visuais, alterações auditivas, discinesias, disfunção intestinal e vesical e fraqueza generalizada.
Diagnóstico
O diagnóstico deve ser feito o mais rapidamente possível e consiste em exame físico neurológico que irá definir a gravidade da doença, e exames de imagens que irão ajudar a concluir o diagnóstico. Os exames de imagem mais indicados são a ressonância magnética e a tomografia computadorizada, ambas de alta resolução com avaliação do saco ceco.
A lesão nervosa pode ser avaliada realizando um eletromiograma ou um teste de velocidade de condução do nervo. Muitas vezes, dependendo do estágio da doença, os exames de imagem vêm negativos, porém não significa que a doença não exista. Em casos de pacientes de risco com quadro neurológico suspeito, a aracnoidite nunca deve ser afastada.
Tratamento
O tratamento deve ser iniciado o mais cedo possível para evitar a evolução do quadro, porém uma vez instalada, esta não tem cura. O tratamento é paliativo e visa principalmente aliviar a dor intensa e impedir a extensão da lesão. O tratamento da dor crônica deve ser multimodal e realizado por profissionais especialistas tanto com medicações específicas como com terapias alternativas.
Como arsenal terapêuticos temos os analgésicos como os antinflamatórios não esteroidias e medicações coadjuvantes de diversas classes como antidepressivos, estabilizadores de membrana e relaxantes musculares. Em caso de suspeita ou confirmação de infecção bacteriana, deve-se fazer a antibioticoterapia adequada.
As terapias alternativas necessitam de uma equipe multidisciplinar com a presença de enfermeiros, fisioterapeutas e psicoterapeutas.
A laminectomia, que é o tratamento cirúrgico, raramente é indicada, pois o custo benefício é baixo, não trazendo benefícios a longo prazo e podendo causar mais complicações.
Prognóstico
O curso da aracnoidite adesiva é bastante desanimador, principalmente quando é realizado um diagnóstico tardio. Por ser uma condição extremamente rara e muitas vezes subdiagnosticada, os pacientes acabam evoluindo para as formas mais graves.
O mais importante é a conscientização da existência dessa complicação, e uma vez ciente disso, o profissional deve sempre levar em conta a possibilidade da mesma no diagnóstico daqueles pacientes que foram submetidos a procedimentos da coluna espinhal, tanto cirúrgicos como anestésicos ou injeções, e que apresentam sintomas neurológicos significativos.
Fonte – Portal PEBMED