Urologista do HU-UFGD alerta os homens sobre a necessidade da ida rotineira ao médico e fala sobre outras doenças que frequentemente acometem a população masculina.
Com objetivo de dar ênfase à conscientização pelo cuidado com a saúde do homem, o movimento Novembro Azul teve início na Austrália, em 2003, como alusão ao Dia Mundial do Combate ao Câncer de Próstata, estabelecido em 17 de novembro. Na época, grupos de amigos deixavam crescer os bigodes, como símbolo do apoio à causa.
Quase 15 anos depois, o Novembro Azul se tornou uma campanha mundialmente institucionalizada, com ações em diversos países e adesão, inclusive, de governos e ONGs. O câncer de próstata e a saúde de homem como um todo passaram a ser pauta entre a população, tanto masculina como feminina, colocando em destaque assuntos que há pouco tempo eram tabu entre os homens, como a importância do exame de toque retal.
No Brasil, em 2015, 14.484 homens morreram em decorrência do câncer de próstata, e parte desse índice se deve a fatores culturais e ao preconceito por parte da população masculina. Os homens têm pouca iniciativa em procurar o auxílio médico e quando o fazem, geralmente, é por incentivo da esposa e dos filhos, o que, de acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, reflete na porcentagem de pacientes diagnosticados em estágios avançados da doença: 20%, sendo que a mortalidade entre o grupo é de 25%.
Para alertar sobre a necessidade do auto cuidado, tanto no que se refere ao câncer como a outras doenças que acometem principalmente os homens, o entrevistado da semana é o urologista Guido Vieira Gomes, do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD).
Ele afirma que devido ao acesso à informação, a população masculina tem se conscientizado sobre os cuidados com a saúde e o número de pacientes que buscam o médico espontaneamente aumentou. No entanto, ele frisa que é essencial que todos os homens com mais de 50 anos se submetam aos exames básicos para diagnóstico do câncer de próstata. Confira a entrevista completa, realizada pela Unidade de Comunicação Social do HU-UFGD:
Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) contabilizam o câncer de próstata como o segundo tipo mais comum da doença entre homens no Brasil, com cerca de 14 mil óbitos por ano. Apesar de muito de se falar na enfermidade e na sua prevenção, grande parte da população não tem conhecimentos, de fato, sobre o assunto. Quais são as possíveis causas da doença e como ela se manifesta no organismo?
Não existe uma causa para que um homem desenvolva o câncer de próstata. Um fator que aumenta a probabilidade de surgimento da doença é o genético, ou seja, a existência de casos acometendo parentes próximos (pai, tio e irmão). Outros fatores que podem contribuir são obesidade e sedentarismo. O paciente com câncer de próstata, na fase inicial, geralmente não apresenta nenhuma queixa. Os sintomas relacionados a esta doença ocorrem, frequentemente, quando o câncer encontra-se mais avançado.
Por se tratar de um exame que esbarra em questões culturais inerentes à comunidade masculina, o toque retal tende a ser evitado por parte dos homens que estão na faixa etária considerada de risco – acima de 50 anos. Esse cenário tem mudado em função das ações de conscientização colocadas em prática nos últimos anos? Além do toque retal, quais outros exames podem diagnosticar o câncer de próstata?
Devido à divulgação nos meios de comunicação e às campanhas de conscientização mais frequentes nos últimos anos, um número maior de homens procuram espontaneamente a consulta com um urologista. Como avaliação inicial, todos os homens que se encontram na faixa etária recomendada, devem ser submetidos ao toque retal e exame de sangue para dosagem de PSA (Antígeno Prostático Específico, enzima cujo nível no sangue é analisado para diagnóstico de tumor na próstata).
O movimento Novembro Azul, iniciado na Austrália em 2003, começou como uma forma de chamar atenção para o câncer de próstata, mas hoje é sinônimo de alerta para a saúde do homem de forma geral. Quais outras doenças mais frequentemente podem acometer a população masculina em suas diferentes fases da vida?
Nos mais jovens, principalmente devido à diminuição da prevenção, está ocorrendo um crescimento das doenças sexualmente transmissíveis, inclusive com aumento do número de casos de sífilis. Nos mais idosos, uma doença bastante comum é o aumento benigno da próstata que, pelo fato de comprimir a uretra (canal por onde a urina é eliminada), pode gerar dificuldade para urinar e até acúmulo exagerado de urina na bexiga. Sintomas relacionados à sexualidade também ocorrem com muita frequência. Muitos adultos jovens apresentam ejaculação muito rápida e numa faixa etária mais alta é comum problemas na ereção (enrijecimento) peniana, conhecida popularmente com impotência. Homens com distúrbios na esfera sexual apresentam uma piora na sua qualidade de vida, inclusive com comprometimento psicológico, podendo afetar também sua vida social e profissional.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a expectativa de vida dos homens no Brasil é 7,2 anos menor do que a das mulheres e uma das causas por trás desse índice é o fato de que grande parte da população masculina evita a ida periódica ao médico ou vai somente por influência da esposa e dos filhos. Qual deve ser a periodicidade das visitas de rotina ao médico? Existe alguma recomendação específica nesse sentido voltada aos homens que possuem histórico de doenças na família como câncer, diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares?
Principalmente os homens que estão acima dos 50 anos, devem ter como rotina avaliações anuais com três especialidades médicas: cardiologia, urologia e proctologia. Nos casos de históricos familiares que apresentam essas doenças, os homens devem iniciar seus exames periódicos após completar 40 anos de idade.
Além do cuidado médico em si, que outras recomendações podem ser dadas à população masculina para que desde cedo desenvolva consciência para o auto cuidado e tenha melhor qualidade de vida e longevidade? Fazer atividade física regular, evitar o tabagismo e ter alimentação saudável, priorizando legumes, verduras e frutas e evitando exageros em relação à gordura animal. A redução do índice de obesidade na população afeta diretamente na redução de várias doenças, inclusive o câncer de próstata e de intestino. Principalmente para os mais jovens, é essencial usar preservativo e evitar a promiscuidade sexual.
Fonte: Douradosagora