Para a ciência, sempre foi intrigante o fato de as mulheres entrarem na menopausa e deixarem de procriar muito antes do fim de suas vidas. Haveria uma explicação para isso, algum efeito benéfico para a evolução da espécie humana? Dois estudos, publicados há cerca de um mês na revista acadêmica “Current Biology”, apontam na mesma direção: ao deixar de ter seus próprios filhos, e passando a ajudar a cuidar dos netos, as avós tiveram papel fundamental para garantir a multiplicação dos humanos no planeta.
No entanto, os pesquisadores afirmam que há limites para a chamada “hipótese das avós”, como explica Virpi Lummaa, professora da University of Turku, na Finlândia, e integrante do grupo responsável por um dos trabalhos: “a ajuda das avós é relevante para famílias em todo o mundo, mas a oportunidade e habilidade para prestar esse auxílio estão relacionadas à idade da avó”. O time trabalhou com dados da era pré-industrial, preservados pelas igrejas do país: devido ao frio intenso, que afetava a agricultura, e a surtos de doenças, um terço da população finlandesa morria antes de completar 5 anos. A presença de avós com idades variando entre 50 e 75 anos aumentava a taxa de sobrevivência dos netos em até 30%. Entretanto, as mulheres acima dessa faixa etária, provavelmente já sofrendo com problemas de saúde, não desempenhavam o mesmo papel nas famílias.
O outro grupo que se dedicou ao tema pertence à Bishop´s University, do Canadá, e teve acesso a registros detalhados dos franceses que se fixaram em Quebec nos séculos 17 e 18. Os dados ratificaram a “hipótese das avós”, mas os benefícios dessa ajuda para garantir a sobrevivência dos netos dependiam da proximidade geográfica. “As mulheres que viviam com suas mães tinham mais filhos e um número maior de crianças vivia até os 15 anos”, afirmou o pesquisador Patrick Bergeron.
Embora já estejamos no século 21, a importância dessa ajuda não diminuiu: avós que pertencem à geração baby boomer contribuem financeiramente ou aliviando o estresse de pais com problemas para equilibrar a vida profissional e familiar. Em 2016, o Boston College publicou estudo mostrando os benefícios da longevidade para a relação entre avós e netos. É cada vez mais comum que essa convivência seja longa e com efeitos positivos para os dois lados. Para quem tem a oportunidade de viver as delícias dessa experiência, não posso deixar de repetir um mantra da coluna: cuide da saúde para saborear essa etapa plenamente.
G1 Bem Estar