Conheça a história de Eliane, que há 10 anos usa a planta para tratar a depressão e reduzir significativamente a quantidade de antidepressivos
Depois de um assédio sexual pelo ex sogro em 2002, Eliane Soares hoje com 44 anos, nunca mais foi a mesma. Ela desenvolveu uma depressão profunda, onde tomava uma série de antidepressivos e calmantes, mas não ajudavam muito.
Foi através da nossa página no Facebook que conhecemos a Eliane e agora vamos contar a história dessa mulher guerreira e que representa muito bem tudo que temos vivido e lutado.
Em 2008, o seu estado se agravou ainda mais, onde a diarista já ingeria quantidades absurdas de clonazepam e outros medicamentos fortes o que acabou a viciando nos remédios. Foi apenas em 2010 que as coisas mudaram.
O Brasil é o país mais depressivo da América Latina, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). São mais de 12 milhões de pessoas, cerca de 5,8% da população. O número ainda é superior que a média global, de 4,4% pessoas e os números só crescem.
Consequentemente, o número de pessoas usando antidepressivos também aumentou, principalmente para mulheres acima de 40 anos. O clonazepam que a Eliane consumia, também conhecido por ser mais forte que o famoso Ritrovil, está na lista dos medicamentos mais vendidos no Brasil há nos.
O que pode ser um fator preocupante, pois o uso prolongado de remédios para ansiedade e depressão podem causar dependência. Segundo dois estudos realizados com 250 e 180 pessoas, a retirada da medicação depois de um longo período foi muito difícil para os participantes, pois eles relataram continuamente sintomas de abstinência.
No caso da Eliana, por exemplo, mesmo depois de 10 anos, ela ainda não conseguiu se livrar dos antidepressivos. No entanto, se antes ela ingeria até 10 cápsulas da tarja preta, hoje são apenas 10 gotas do clonazepam.
“Quando eu estava com depressão eu só queria dormir e mais nada. Dormia o dia todo e a noite eu ficava acordada senão eu me enchia de calmante e dormia dois três dias” relata.
A introdução da cannabis
Eliane morava na casa da sua sogra, quando aconteceu os assédios. Quando o seu ex marido percebeu que a mulher estava mal, a levou a um psiquiatra que revelou o que estava acontecendo. No entanto, o trauma ainda se perpetuou por longos anos.
“O médico disse pro meu ex marido que era pra me tirar dentro da casa da minha ex sogra daí a gente mudou e nossa foi um inferno, pois os remédios me descontrolaram.” A diarista conta que mesmo com a ajuda do ex marido que a apoiou neste momento difícil, a depressão só piorava.
Na casa da Eliane nunca houve tabus, desde pequena a maconha estava presente na vida do seu irmão que consumia normalmente. Por isso, ela não hesitou em usar o método. O que talvez ela não soubesse, é que a planta faria uma enorme diferença.
Ela percebeu que as coisas começaram a ter um brilho diferente depois de um ano usando a erva, e até hoje, não deixa de usar. “A cannabis me trouxe de volta a vontade de sonhar, você não está entendendo o bem que esta planta fez pra mim” complementa.
Formas da cannabis tratar a depressão
A cannabis é formada por centenas de compostos chamados canabinóides, eles podem interagir com várias funções do corpo a nível celular. Uma das interações da cannabis é na serotonina, por isso, o tratamento para depressão é tão eficaz.
Eliane Soares utiliza a cannabis na forma fumada, no entanto, a forma mais comum de tratar doenças crônicas é com o óleo extraído da planta. Eles não causam efeitos alucinógenos, pois são formados com os canabinóides isolados.
Como por exemplo, o canabidiol (CBD). Ele não possui propriedades alucinógenas e é o mais indicado para o tratamento não só da depressão, mas de diversas doenças. Ele tem efeitos semelhantes ao antidepressivo, induzindo efeitos rápidos e positivos. Eles quem são os responsáveis pela ativação da serotonina.
A serotonina é um neurotransmissor que regula o humor, sono, apetite, sensibilidade, funções cognitivas entre outros. A baixa concentração pode resultar em dificuldades para dormir, mau humor, ansiedade e é claro, a depressão.
No caso da Eliana, que usa a cannabis fumando, o canabinóide mais prevalente é o tetra-tetraidrocanabinol (THC). Os benefícios no humor são ocasionados por causa da ativação deste componente no Sistema Nervoso Central (SNC) que mantém elevado os níveis dos canabinóides produzidos pelo nosso próprio organismo.
Os canabinóides de cannabis entram como uma espécie de reforço, que ajuda a regular os níveis do neurotransmissor. Suas propriedades anti-inflamatórias e antidepressivas também auxiliam no processo.
O uso recreativo da maconha
Pela Lei, o uso recreativo da cannabis não é considerado crime, o que pode causar uma prisão é uma quantidade excessiva da erva, pois se for maior que o consumo próprio, pode ser considerado tráfico.
Contudo, não há exatamente uma quantia certa de maconha que uma pessoa possa portar, quem decide se é ou não crime, é a interpretação do juiz. O que consequentemente abre as portas para a desigualdade e o preconceito.
Segundo um levantamento feito em 2017 pela Pública, os negros são mais condenados por tráfico que brancos. Os dados mostram ainda uma diferença na quantidade, onde negros geralmente são pegos com uma porção menor que pessoas brancas.
Em outra entrevista aqui para o Cannalize, a Rosineide também nos contou sobre esses episódios de preconceito, confira.
Mesmo Eliane tendo o direito de comprar a erva para o uso pessoal, ela tem receio de que algo possa acontecer. Por isso, a diarista tenta usar apenas dentro de casa. “Não estou fazendo nada de errado (…) as pessoas tem que entender que a cannabis é só uma planta” conclui.
FONTE:
Tainara Cavalcante
Jornalista e produtora de conteúdo no Cannalize. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.