Quebrando esterótipos, pessoas com mais de 60 anos revelam como envelhecer pode ser positivo
Os idosos correspondem a 14,7% da população brasileira e apesar das estatísticas de aumento da longevidade nos últimos tempo, ainda sofrem preconceito.
Apesar das limitações no mercado de trabalho e estereótipos que ditam os locais, roupas e estilo de vida que devem ser adotados, essa parcela da população tem se mostrado cada vez mais ativa, revelando como a longevidade pode ser positiva.
“A gente já vivenciou tanta coisa, que muitas delas se tornaram assim: o depois é agora, tem que ser agora. E para a gente decidir isso, realmente temos que ter coragem e segurança, porque os medos e as inseguranças, nós já tivemos. Agora, o nosso pensamento está mais estável e seguro”, contou a modelo Rosa Saito.
Embora seja positiva para Saito, a velhice pode chegar junto a apontamentos que definem a forma como pessoas com mais de 60 anos devem agir.
Conforme descrito no Relatório Mundial sobre Idadismo, da OMS, o etarismo se refere a “estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade que têm”.
Segundo a médica e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Ivete Berkenbrock, o etarismo aumenta a cada ano que a pessoa envelhece, tendo consequências até mesmo psicológicas:
“O preconceito afeta a saúde mental da pessoa, porque ela tende a ficar em isolamento, não se sente confortável no ambiente onde ela é basicamente rejeitada por de ter mais de 60 anos. Isso pode levar à depressão, porque a cada vez que a pessoa pensa em fazer algo, ela interioriza isso.”
Além do impacto na saúde mental da população idosa, o etarismo também afeta o cotidiano. Em entrevista, Berkenbrock explicou que atividades de lazer e locais para prática de atividade física, por exemplo, não contam com acessibilidade.
Para a especialista, promover acesso apenas à área da saúde é uma forma de resumir os idosos às doenças, negligenciando a realização de seus prazeres.
Ainda assim, a saúde da pessoa idosa também é algo a se orgulhar: “O aumento da longevidade é a maior conquista coletiva da humanidade nos últimos tempos. Isso é um privilégio e mostra o quanto nós já fomos capazes de vencer doenças infecciosas, de passar por guerras e fenômenos climáticos, de vencer doenças”, afirmou Ivete.
Conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019 a expectativa de vida no Brasil era de 76,6 anos.
Dando força para essa perspectiva positiva sobre o envelhecimento, a modelo Rosa Saito afirma aos 71 anos que vive realizações e lembra a importância de pessoas jovens combaterem o etarismo:
“Mesmo que esteja na flor da juventude, é o momento de a pessoa realmente parar, pensar, pôr a mão na cabeça, porque são pessoas que já vivenciaram, que têm experiência. Então seja no trabalho ou dentro de casa, são pessoas que têm uma carga tão grande de sabedoria, de vivência, que têm que ser respeitados. As pessoas têm que se pôr no lugar.”
Além de desfilar nas passarelas, Rosa se mostra como um modelo a ser seguido por quem não quer se limitar aos estereótipos sobre quem tanto assiste o tempo passar:
“Enquanto tiver alegria de viver, não tem essa de ‘ai eu estou com x idade’. O que é x idade? É um mero tempo? A idade está na sua cabeça. Eu acho que não existe. Enquanto você estiver viva, tem que tentar ser feliz, correndo atrás daquilo que você um dia teve vontade de fazer. Dê motivação para você viver, motivação para você se sentir feliz.”
Este texto foi originalmente publicado em CNN