Credores terão de aceitar juros menores para que os países da região tenham condições de investir em necessidades sociais e sanitárias, diz o organismo
Devido à crise e ao clima negativo para os investimentos financeiros em nível mundial, muitos países latino-americanos recorreram à dívida com credores privados para poder enfrentar os gastos em programas sociais e de estímulo econômico. Esta dívida já está se tornando um peso, e o Banco Mundial espera que pelo menos os países mais pobres possam ter suas dívidas canceladas ou reestruturadas enquanto a recuperação acontece.
Malpass recordou seu trabalho no Departamento do Tesouro quando, no final da década de 1980, os Estados Unidos selaram o Plano Brady, que consistia em conceder bônus aos países da América Latina que estavam imersos em uma crise da dívida. “Isso levou a uma década perdida. Desta vez, temos que tentar evitar que uma crise da dívida se prolongue,” disse Malpass. “Portanto, estamos tratando de evitar uma situação em que a dívida simplesmente seja refinanciada a uma taxa de juros elevada e depois continue crescendo no futuro. Isso exige que os credores bilaterais oficiais, os credores do setor privado, trabalhem para encontrar taxas de juros mais baixas para as diversas dívidas que sobrecarregam a região”, afirmou.
Nos últimos 20 anos, os Governos recorreram mais do que antes à dívida privada, ou seja, vendendo títulos a fundos e investidores dos mercados financeiros internacionais, em vez de apenas pegarem empréstimos com organizações multilaterais. “Isso é muito difícil de reestruturar segundo as regras atuais,” explicou Malpass. “As regras estão desequilibradas, de maneira que tendem a favorecer os credores em detrimento dos devedores, através das estruturas judiciais de Nova York e Londres, o que cria grandes desafios para os países quando tentam se reestruturar”. No último ano, o Equador e a Argentina tiveram que renegociar sua dívida externa com os detentores de bônus no exterior, o que aumentou o custo da sua dívida por mais tempo.
Se por um lado os Governos precisam arcar com gastos em ajudas sociais e serviços sanitários enquanto se esforçam para vacinar suas populações, com o objetivo de futuramente reabrir suas economias a toda capacidade, por outro eles também poderão se beneficiar do comércio internacional, segundo Malpass. “Temos programas regionais que ajudam a cruzar fronteiras e facilitar coisas importantes como o comércio, para que os bens possam fluir de um lado para outro dentro da América Latina e o Caribe, e também para outros países, porque acredito que esses canais comerciais acabarão sendo vitais na nova economia.”
“A América Latina vem trabalhando intensamente com o Covax,” disse Malpass, “e, à medida que o Covax tiver suprimentos, acredito que haverá uma parte disponível para a América Latina, mas não o suficiente para realmente enfrentar este grande problema. Segundo algumas estimativas, parece que a América Latina só terá 3% das vacinas disponíveis, o que não é suficiente”.
Fonte: El País