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Lesão cerebral provocada por espancamento brutal me deixou com risada patológica

Paul Pugh ficou em coma por mais de dois meses e, durante a recuperação, começou a ter ataques de riso sem sentido: ”achavam que eu queria chamar a atenção’.

Era a reunião mais difícil de sua vida. Paul Pugh estava sendo informado sobre como seria seu futuro após uma lesão cerebral. E riu durante todo o encontro, apesar de ter a sensação de estar chorando. Esse riso, mais tarde, seria explicado: ele acabou diagnosticado com risada patológica.

Tudo começou em 2007, quando Pugh, hoje com 37 anos, aproveitava uma noitada com seus companheiros de time, Cwmaman Football Club, e foi vítima alvo de um ataque inesperado.

Ao sair de um pub em Carmarthenshire, sua cidade natal, no País de Gales, ele foi abordado por quatro homens desconhecidos, que começaram a espancá-lo e chutá-lo repetidas vezes.

Pugh sofreu traumatismo craniano e ficou em coma por mais de dois meses. Um coágulo de 10 cm x 4 cm se formou em seu cérebro, deixando algumas sequelas, como dificuldade de fala, fadiga crônica e dificuldade de mobilidade, que o levou à cadeira de rodas.

“Eu tive de aprender a caminhar e conversar novamente e aceitar o fato de que nunca me recuperarei completamente”, diz. “A vida tem sido uma luta para mim e minha família, mas estamos batalhando”, completa.

Pugh passou 13 meses no hospital — por volta do quarto, teve seu primeiro ataque de riso.

“Era uma reunião séria com meu especialista, meu fisioterapeuta e minha família para discutir como seria minha vida e meu futuro”, recorda.

“Quando eles começaram a falar sobre mim, fiquei assustado e isso desencadeou algo no meu cérebro: eu ri durante toda a reunião.”

“Na verdade, eu estava chorando copiosamente, mas externamente saiu como riso.”

Ceticismo

A princípio, ninguém entendeu seu comportamento. Até a família achou que ele estivesse “fazendo cena em público, que queria chamar a atenção”.

Passaram-se vários anos até que os ataques de riso de Pugh fossem diagnosticados como risada patológica, ou doença pseudobulbar (conhecida como PBA, na sigla em inglês, ou incontinência emocional).

A condição aparece quando há uma desconexão entre o lobo frontal do cérebro, que mantém as emoções sob controle, e o cerebelo e tronco cerebral, que regulam a expressão da emoção. Trata-se de uma verdadeira linha cruzada.

A PBA pode afetar pacientes com determinadas condições ou lesões neurológicas, como acidente vascular cerebral, esclerose múltipla ou Alzheimer.

“O termo se refere à expressão descontrolada da emoção que é desproporcional ou inapropriada ao contexto social, e pode ser inconsistente com o que a pessoa realmente está sentindo”, explica Andy Tyerman, neuropsicólogo clínico da Headway, instituição voltada para reabilitação após lesões cerebrais.

“A pessoa também pode parecer muito aflita em relação a algo que antes seria pouco perturbador”, completa.

No caso de Pugh, ele riu quando pensou que estava chorando.

“Eu sei quando estou rindo ou chorando, mas outras pessoas não”, diz.

“Alguns ficam aborrecidos e reagem sendo sarcásticos comigo, ou até mesmo com agressividade, e tentam ferir meus sentimentos porque acham que estou rindo deles”, conta.

“É incrível o quão importante a risada é. Você nunca pensa nisso, mas ela tem um efeito muito poderoso, compartilhar uma piada com alguém é algo especial.”

Cuidados

Pugh conta que sua família é muito compreensiva. Sua mãe virou sua cuidadora em tempo integral, auxiliando na questão da mobilidade. Seu pai, de 72 anos, ainda trabalha, e seus irmãos – Simon e Matthew – também o ajudaram na última década.

Ele diz que o diagnóstico o “atingiu em cheio” e que às vezes atrai atenção indesejada, mas que agora consegue sentir quando um episódio de riso patológico é iminente.

“Eu sinto uma risada chegando alguns segundos antes – às vezes consigo controlar, mas tem vezes que o som sai. A risada não dura muito, um minuto no máximo, mas pode causar muitos problemas se as pessoas não entenderem.”

Pugh desenvolveu seu próprio método para evitar uma crise – “pensando em algo ou alguém ruim, mas sem sentimento” – e estima conseguir controlar nove entre cada dez ataques de riso.

Os últimos dez anos têm sido “extremamente duros”, conta. Ele teve de abrir mão do trabalho como eletricista e agora passa seu tempo em terapias ou visitas à instituição Headway, que lhe deu “uma perspectiva sobre como é estar com pessoas com lesões cerebrais” e mostrou que ele não estava sozinho.

“Desde o incidente, encontramos as pessoas mais incríveis do mundo, todas querendo me ajudar”, diz.

“Por outro lado, me sinto como se estivesse sob prisão domiciliar porque a lesão afetou minha mobilidade e equilíbrio, preciso de ajuda sempre que saio de casa”, acrescenta.

Contra a violência

Em 2014, Pugh deu início à Paul’s Pledge, uma campanha para educar as pessoas sobre a violência incitada pelo álcool, que também tem a participação da polícia local.

Pugh faz visitas a escolas, faculdades e clubes juvenis e, segundo ele, a resposta tem sido “absolutamente fantástica” — “eles podem ver que é real, e não teatral”.

“Esta é a minha vida agora – eu superei o que aconteceu”, conta ele. “Há muitas coisas que eu não posso fazer – mas esta (campanha) eu posso. Eu acho que ela passa uma mensagem poderosa para o mundo. Eu não quero ver ninguém na situação em que eu e minha família ficamos.”

Os quatro homens responsáveis ??pelo ataque a Pugh foram condenados com penas de nove meses a quatro anos de prisão.

“Aquele que me chutou com toda a força na cabeça, e quase me matou, foi solto. E quanto a mim? Dez anos depois, ainda estou cumprindo minha sentença”, conclui.

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