Lisseu Martins tenta ver sogra internada por covid através de pequena janela do Hospital Regional do Oeste, em Chapecó (SC)Imagem: Hygino Vasconcellos/UOL
De uma pequena janela, um grupo de pessoas se espreme para tentar conversar com parentes internados por covid no Hospital Regional do Oeste (HRO), em Chapecó. A cidade no oeste catarinense enfrenta a falta de leitos e na última terça-feira (2) passou a mandar pacientes para o Espírito Santo. “Como ela está?”, questiona Edite Gonçalves, 56, sobre sua mãe, Anita Ramos, 72. “Está sendo analisada”, grita um funcionário da unidade.
Há dez dias, a idosa começou a apresentar os sintomas do coronavírus e procurou um dos ambulatórios de campanha montado na cidade. Foi diagnosticada, recebeu o chamado kit covid e mandada de volta para casa. No pacote havia cloroquina e ivermectina, remédios sem eficácia comprovada para o tratamento da doença, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde).
Na noite de quarta-feira (3), Anita começou a apresentar falta de ar e reclamava de dores no peito e nas costas. Os outros três filhos da idosa tentavam tranquilizar a irmã, que mora a 91 km de distância. Preocupada, Edite foi às pressas para Chapecó e chegou na manhã de ontem.
Quando eu cheguei, me assustei com o que eu vi. Não imaginava que ela estava tão ruim. Praticamente sem efeito o kit covid”
Edite Gonçalves, sobre o estado de saúde de sua mês, Anita Ramos
Na manhã de hoje, a idosa foi levada primeiro para uma clínica particular por ela e pelo cunhado, Lisseu Martins, 56 anos. Ao chegar lá, a família foi orientada a procurar o hospital. Por sorte, a idosa conseguiu dar entrada na casa de saúde pouco tempo depois.
Anita foi acomodada no PS (Pronto Socorro), quase todo reservado a pacientes com coronavírus. A unidade fica no mesmo nível da calçada e as janelas são mantidas abertas, com os pacientes a poucos metros de quem está do lado de fora. A reportagem permaneceu poucos minutos no local e, junto com a família, foi retirada de próximo das janelas.
Edite contou que estranhou não poder ter contato com a mãe. “Eu não posso entrar lá?” perguntou para o cunhado, sentado em um banco. Após a negativa dele, Edite não escondeu a surpresa: “não acredito que não posso vê-la”. Foi quando se afastou da entrada principal e caminhou em direção às janelas. “Será que não dá para ver daqui?”. Mal terminou a frase e já encontrou a mãe no fundo de uma sala.
Procurada pela reportagem, a assessoria da prefeitura confirmou que o kit covid é distribuído em algumas unidades. Porém, o médico tem direito de escolha para prescrevê-lo ou não, assim como o paciente, que pode optar pelo uso ou recusar os fármacos.
Jovem procurou atendimento 4 vezes até ser internado
Do lado de fora do hospital, uma outra família esperava a chegada da ambulância que trazia o jovem Henrique Gonçalves, 31 anos. Ele estava internado na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e, por orientação médica, precisou ser transferido para o HRO. Mas antes disso, ele praticamente fez uma peregrinação por atendimento, indo quatro vezes na UPA até ser internado.
A mãe dele, Belenice Fátima de Santos, 53, diz que ele começou a apresentar sintomas em 20 de fevereiro e foi até uma UPA, mas não conseguiu atendimento. Dali, foi em uma farmácia, fez o exame e recebeu teste positivo para a doença. Três dias depois a esposa dele e o filho de sete anos também foram diagnosticados com a doença.
No meio da semana, o jovem voltou na UPA e recebeu antibiótico e bombinha de ar antes de ser liberado. Em 27 de fevereiro ele voltou na unidade, recebeu soro e novamente foi mandado de volta para casa. Nesse dia ele já estava havia 36 horas sem conseguir se alimentar direito, segundo a mãe dele.
No domingo (28), Gonçalves começou a passar mal no banho, com muita falta de ar. Foi levado para a UPA às pressas onde conseguiu atendimento. Porém, na unidade a família descobriu que ele estava com pneumonia e tinha ainda contraído uma bactéria. Por decisão médica, o rapaz foi encaminhado para o hospital.
A nossa esperança era que a cada minuto ele fosse ficar bem.
A gente não tinha a sensação de que ele fosse piorar tanto Belenice de Santos, sobre a situação do filho Henrique Gonçalves O marido dela, Eraldo de Carvalho Pedro, 56, diz que a situação é delicada. “O estado dele é gravíssimo.
FONTE : UOL