O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, sendo a mais comum dentre as demências. Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 50 milhões de pessoas são diagnosticadas com demência em todo o mundo. Estima-se que 152 milhões de pessoas serão afetadas até 2050.
Estes números a tornam uma importante questão de saúde pública, gerando cada vez mais debates sobre causas, prevenção, fatores de risco, tratamento e a possibilidade de cura para o Alzheimer.
Apesar dos esforços da ciência, ainda não foi descoberta a causa efetiva para o problema, que prevalece entre idosos com mais de 65 anos, podendo, ainda que raramente, atingir pacientes mais jovens. Dentre os possíveis facilitadores estão a genética, estilo de vida e alimentação.
Não há cura para o Alzheimer e todos os medicamentos já desenvolvidos visam atenuar seus sintomas, que incluem declínio mental, esquecimento, dificuldade de raciocínio, mudanças de humor, agressividade, apatia, entre outros.
Assim, sabendo que o envelhecimento populacional é uma realidade, encontrar maneiras de melhorar a qualidade de vida destes pacientes e impedir o avanço da doença tornou-se uma prioridade de saúde pública, sendo a cannabis um importante aliado nesta tarefa.
Cannabis Medicinal no tratamento do Alzheimer
Dentre as propriedades terapêuticas da cannabis estão a diminuição do estresse oxidativo, retardo da neurodegeneração e das placas amilóides, que sabidamente colaboram para o surgimento e agravo do Alzheimer.
Aqui, tanto o canabidiol (CBD) quanto o tetrahidrocanabinol (THC) têm sua parcela de importância e merecem ser considerados. Eles interagem diretamente com o Sistema Endocanabinóide (ECS) que, segundo os cientistas, é um dos grandes responsáveis pela homeostase do organismo.
Dentre suas várias atribuições, o ECS age sobre o humor, apetite, memória, aprendizado e atividade motora, o que explicaria seu efeito surpreendente em pacientes diagnosticados com Alzheimer. Saiba mais sobre a cannabis medicinal e seus efeitos sob o organismo.
O que diz a ciência
Um estudo conduzido pela Faculdade de Farmácia da Universidade do Sul da Flórida constatou, após ensaios e investigação, que o TCH interage diretamente com o peptídeo beta-amilóide, inibindo sua agregação. Além disso, não foi observada toxicidade nas doses analisadas, o que torna o TCH uma opção potencial de tratamento para o Alzheimer. [1]
As análises do Instituto Salk de pesquisas biológicas colaboram para isso. Segundo seus cientistas, o TCH e outros canabinóides poderiam ajudar a remover a proteína beta-amilóide em neurônios cultivados em laboratório, além de reduzir a inflamação celular. [2]
A teoria é de que o acúmulo da proteína beta-amilóide formaria placas, que impediriam a comunicação entre os neurônio. Isso torna o canabidiol o primeiro composto não tóxico com resultados comprovados no tratamento da doença.
Outro estudo realizado em 2016 pelo Centro de Saúde Mental da Universidade de Tel-Aviv, em Israel, mostrou que o óleo de cannabis medicinal é uma opção segura e promissora para o tratamento de demências, auxiliando na diminuição de seus sintomas. [3]
Considerando as importantes alterações comportamentais decorrentes da doença, os compostos da cannabis poderiam auxiliar na diminuição da ansiedade, agressividade e depressão entre os pacientes, resultando em uma melhora na qualidade de vida dos mesmos.
Este fator deve-se, principalmente, à interação entre o THC e os receptores do tipo CB1, fortemente presentes no sistema nervoso central.
Ainda é impossível falar em cura para o Alzheimer. Ainda assim, com a compilação e análise dos diversos estudos já existentes, é inegável que a cannabis medicinal traz uma série de benefícios no tratamento e controle da doença, impedindo a sua progressão e, em muitos casos, favorecendo a regressão dos sintomas.
O tema ainda é polêmico e gera debates muitas vezes acalorados entre a classe médica. Parte disso se deve ao fato de que ainda não existem estudos fortes o suficiente para comprovar sua segurança e eficácia em longo prazo.
Casos reais: como a cannabis medicinal já ajudou pacientes diagnosticados com Alzheimer
Apesar dos obstáculos como a legislação, burocracia, tabus e a descrença por parte dos especialistas, não é raro encontrar casos bem sucedidos do uso da cannabis medicinal em pacientes com Alzheimer.
Um dos exemplos mais famosos é o de Ivo Suzin, um homem de 52 anos, precocemente diagnosticado com a doença. Após o diagnóstico e a mudança drástica na rotina da família, seu filho Filipe passou a estudar centenas de artigos científicos sobre os benefícios da cannabis medicinal.
Descartando a possibilidade do plantio caseiro, por questões legais, Filipe conheceu a AGAPE, uma ONG que fornece o óleo de cannabis ao Sr. Ivo, iniciando o tratamento imediatamente. Para ele, o tratamento trouxe seu pai de volta, reduzindo sua agressividade, melhorando suas funções cognitivas e melhorando a qualidade do sono.
Em seu canal do Youtube, Curando Ivo, Filipe e sua mãe Solange mostram as dificuldades da doença e a evolução de Ivo com o tratamento à base de cannabis medicinal.
Outro caso real de sucesso é o de Walter Selani, de 86 anos. Segundo seu filho, a doença demorou a ser diagnosticada, porém, evoluiu rapidamente. Walter, que é surdo, se tornou agressivo e os cuidados com ele se tornaram cada vez mais difíceis.
Ao descobrir o canabidiol o tratamento foi iniciado e permanece até hoje, sete meses depois, como um complemento aos medicamentos prescritos pelo médico. Segundo a família, hoje o Sr Walter reconhece os bisnetos, interage mais e melhor com as pessoas e mostra um melhor desempenho cognitivo.
São apenas dois exemplos dos muitos que surgem dia após dia. Cada vez mais a cannabis medicinal mostra-se uma alternativa plausível para melhorar a qualidade de vida de pacientes e familiares que convivem com o Alzheimer. Vale ressaltar que, invariavelmente, o acompanhamento médico se faz indispensável.
FONTE : BRUNA SOUZA / CANNALIZE.COM